25 de agosto de 2025
"Chefe da Interpol" presa em Mossoró frequentou acampamento bolsonarista
Autor: Daniel Menezes
Do SAIBA MAIS
Por Valcidney Soares
A mulher presa em Mossoró que se apresentava como desembargadora, juíza, promotora, advogada e até chefe da Interpol frequentou um acampamento bolsonarista no Ceará após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2022.
Célia Soares de Brito, de 46 anos, foi detida depois de apresentar um certificado de posse e uma carteira da OAB com indícios de falsificação. O caso aconteceu em Mossoró na última quarta-feira (20). Na quinta (21), ela foi solta após audiência de custódia e ganhou liberdade provisória após o pagamento de fiança num valor de dois salários-mínimos.
A falsa advogada acampou em frente ao Tiro de Guerra de Juazeiro do Norte. Em um canal de YouTube, ela publicou vídeos em que aparecia vestida de verde e amarelo e empunhando a bandeira do Brasil.

Foto: reprodução
“Atenção meu povo brasileiro, Dra. Célia Soares. Estou aqui representando meu povo brasileiro. Lutei pela minha cidade e hoje estou lutando pelo meu país”, disse, em um vídeo de 3 de dezembro de 2022. Em uma das faixas exibidas em frente ao Tiro de Guerra estava o pedido de “SOS Exército Brasileiro” e a frase “livre-nos do comunismo”.
Assim como em diferentes cidades do Brasil, incluindo Natal, Juazeiro do Norte foi mais um município em que apoiadores de Bolsonaro — descontentes com o resultado da eleição de 2022 — acamparam pedindo intervenção militar após o resultado das urnas.
No local, eles chegaram até a fazer um churrasco em frente ao Tiro de Guerra. O acampamento só foi desmobilizado em 31 de dezembro de 2022, após 59 dias no local. No principal episódio envolvendo os acampamentos bolsonaristas, apoiadores do ex-presidente invadiram os prédios situados na Praça dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023. Vidraças foram quebradas, estátuas derrubadas, poltronas arrancadas, móveis despedaçados e obras de arte vandalizadas. Janelas foram pichadas, e salas de áreas administrativas tiveram suas instalações devastadas.
Foto: reprodução
Como resultado, 1.628 ações penais foram instauradas no Supremo Tribunal Federal (STF). Até o último dia 12 de agosto, segundo o STF, 141 pessoas estavam presas. Havia ainda 44 presos em prisão domiciliar, com ou sem tornozeleira eletrônica.
Até o momento, 638 pessoas foram condenadas pelo episódio, sendo 279 por crimes graves e 359 por crimes menos graves.
Além disso, foram fechados 552 acordos de não persecução penal (ANNP), em que o investigado confessa a prática do crime e aceita cumprir todas as condições estipuladas, como, por exemplo, prestar serviços à comunidade, pagar indenização ao ofendido ou cumprir outras medidas que promovam a reparação do dano. O valor da prestação pecuniária arrecadada já soma R$ 2.976.100,00.
O caso
A prisão de Célia Soares de Brito só aconteceu depois que um motorista de aplicativo que a transportava desconfiou da história e a levou para um posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no município do Oeste potiguar.
Ela estaria em Mossoró para tomar posse de um cargo na prefeitura da cidade. O motorista estranhou as diferentes versões e o grande volume de bagagem para quem supostamente passaria pouco tempo na cidade, e decidiu procurar ajuda na PRF.
Ao chegar no posto, a mulher apresentou um suposto certificado de posse para o cargo de Desembargadora e uma carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) com indícios de falsificação. A carteira não tinha chip, o nome dos pais da mulher não batia com a sua identidade, e o número de inscrição, após consulta no site do Conselho da OAB, pertencia a outro advogado, no Paraná.
Diante dos fatos, a mulher foi detida e levada para a Polícia Civil, onde foi confirmado o uso de documento falso. O celular dela também foi apreendido. No carro também estavam a mãe e filha de Célia. Elas foram levadas à delegacia, ouvidas e liberadas.
Em 2020, filiada ao Partido Verde, Célia foi candidata a vereadora de Juazeiro do Norte e recebeu 19 votos. No registro à Justiça Eleitoral, ela afirmou ser empresária e possuir ensino superior incompleto.
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