31 de outubro de 2025
Lewandowski explica diferença entre terrorismo e facções em meio ao lobby da direita
Autor: Daniel Menezes
MSN - O ministro da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Ricardo Lewandowski, destacou a diferença entre organizações criminosas e grupos terroristas, e ponderou que o governo considera errônea a tentativa de equiparar os termos. A declaração ocorreu na quarta-feira (29), durante uma fala a jornalistas após a reunião emergencial com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL).
Ele explicou que existem diferenças, com o terrorismo tendo uma conotação política e ideológica, enquanto fações criminosas são mais voltadas a crimes em si.
“Nós temos uma posição que já foi externada várias vezes: uma coisa é terrorismo, outra coisa são facções criminosas”, disse Lewandowski. “O terrorismo envolve sempre uma nota ideológica, uma atuação política com repercussão social, com atentados esporádicos, sempre tendo em conta um determinado fator ideológico. Já as facções criminosas são grupos de pessoas que, sistematicamente, praticam crimes previstos na legislação penal”, explicou o ministro.
Lewandowski argumentou que equiparar o crime organizado ao terrorismo poderia dificultar o combate às facções, uma vez que as leis brasileiras já distinguem os dois tipos de crime de forma clara. “Temos leis que estabelecem o que é uma organização criminosa e o que é terrorismo. São atuações que não se confundem, e não temos nenhuma intenção de fazer essa mescla, até porque dificultaria — e muito — o combate a esses criminosos que são claramente distintos”, afirmou.
A Operação Contenção, ocorrida no Rio de Janeiro na terça-feira (28), se tornou a mais letal da história do estado, com 119 mortos, segundo o governo fluminense. Lewandowski ainda destacou que a operação não teve envolvimento da Polícia Federal (PF), por se tratar de uma ação de “ocupação de território”, competência das forças estaduais. “A Polícia Federal é uma polícia judiciária. Essa operação foi de inteira responsabilidade do governo do estado do Rio”, disse.
Ainda assim, ele frisou que há troca rotineira de informações entre os órgãos federais e estaduais de segurança, e confirmou que o governo atendeu ao pedido de Cláudio Castro para o envio da Força Nacional ao estado. “O governador solicitou a atuação da Força Nacional, e o governo federal se disponibilizou e autorizou o deslocamento para o Rio”, acrescentou.
Entenda o lobby do terrorismo
O governador paulista Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) resolveu assumir a frente do lobby pró-Donald Trump para transformar as facções criminosas brasileiras em "terroristas" e, assim, avalizar uma possível ação armada no país sem a necessidade de comunicar o governo Lula.
Principal aposta da terceira via para fazer frente à tentativa de reeleição de Lula ao Planalto, Tarcísio deve exonerar Guilherme Derrite (PP-SP) da secretaria de Segurança Pública para que ele retome o mandato de deputado federal e assuma a relatoria do Projeto de Lei 1283/2025, do deputado bolsonarista Danilo Forte (União-CE), para classificar facções criminosas como o CV e o PCC como organizações terroristas.
Embate entre o governo estadual e federal, protagonizado por Cláudio Castro
A declaração ocorre em meio ao aumento da tensão entre o governo federal e o governador Cláudio Castro (PL-RJ), que tem se recusado a dialogar com ministros após as críticas à condução da operação, marcada por denúncias de abusos e pela alta letalidade. Castro culpou tanto o governo federal, na terça-feira (28), quanto o pediu para “ficar de fora”, em uma nova ofensiva nesta quarta-feira (29).
“O governador desse estado nem nenhum secretário vai ficar respondendo nem ministro, nem autoridade, nem ninguém que queira transformar esse momento numa batalha política”, declarou Castro durante uma coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (29).
O discurso foi interpretado como uma reação às críticas feitas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que mais cedo havia cobrado o governador por “fazer praticamente nada” no combate às fraudes de combustíveis relacionadas ao crime organizado no Rio. Também se dá de encontro com o governo federal considerar que o episódio evidencia a falta de coordenação e responsabilidade do governo estadual.
Em sua fala, Castro reforçou o discurso de autossuficiência e disse que o estado “não precisa de quem quer fazer confusão”.
Na última terça-feira (28), o governador afirmou que “o Rio está sozinho nessa guerra”, e ressaltou que não chegou a pedir equipamentos porque já imaginava uma negativa do governo federal. “É uma luta que já extrapolou toda a ideia de Segurança Pública e que está na Constituição: quando você tem essa quantidade de armas que vem do tráfico internacional, não é só responsabilidade do estado. O Rio está sozinho nessa guerra”, disse Castro.
O Palácio do Planalto reafirmou disposição em ajudar o estado, mas dentro da legalidade e com planejamento conjunto, e considera que o episódio evidencia a falta de coordenação e responsabilidade do governo estadual.
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