13 de dezembro de 2025

Não há comoção moral nacional contra a ladroagem do orçamento secreto porque agora ela atrapalha o candidato do sistema: o bolsonarismo sem Bolsonaro, Tarcísio de Freitas

Autor: Daniel Menezes

A ausência de comoção moral nacional diante da ladroagem do orçamento secreto não é distração nem fadiga cívica. É cálculo político. O silêncio de imprensa, mercado e elites tem endereço certo: evitar qualquer abalo no projeto do bolsonarismo sem Bolsonaro, hoje encarnado em Tarcísio de Freitas. Reabrir o debate moral, denunciar o esquema e expor seus operadores significaria atingir o coração do arranjo que sustentou o governo anterior — e que segue irrigando alianças e carreiras no presente.

Diferentemente do período da Lava Jato, quando o berrante moral era soprado sem pudor para destruir um campo político específico, agora a ética virou inconveniente. O orçamento secreto nasceu e prosperou sob Bolsonaro, foi defendido por sua base e institucionalizado como método de poder. Combater de verdade esse esquema exigiria apontar responsabilidades, rastrear emendas, constranger parlamentares e expor a herança direta deixada pelo bolsonarismo. Isso colidiria frontalmente com o projeto que mercado e mídia tratam como “direita viável”: Tarcísio, o bolsonarista palatável.

Assim, a moral pública foi colocada em quarentena. Não por zelo democrático, mas para não contaminar o candidato preferido do sistema com o cheiro do próprio esgoto que o bolsonarismo produziu. O resultado é um país onde a corrupção virou assunto perigoso, a indignação virou risco eleitoral e a seletividade moral opera como instrumento de engenharia política. O silêncio não é neutralidade: é proteção.

[0] Comentários | Deixe seu comentário.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.