7 de setembro de 2025

Não é anistia; é golpe

Autor: Daniel Menezes

Nunca concordei com essa aceitação pela sociedade brasileira de chamar uma tentativa continuada de golpe pela extrema direita de anistia. Tergiversar na disputa política também é abrir mão no estabelecimento de sentido como já nos ensinou o sociólogo Pierre Bourdieu.

Ora, a anistia nunca terminou bem no Brasil. E, ao contrário do que os bolsonaristas alegam, a última vez foi usada, principalmente, para salvar da cadeia os militares que usurparam o poder e passaram 21 anos no país, colocando em prática todo tipo de atrocidade. Não é opinião; é história.

Mas agora ela tem um agravante. Não serve apenas, como na última ditadura, para gerar a impunidade para golpistas e permitir que asilados políticos perseguidos retornem ao Brasil, tais como Fernando Henrique, Brizola ou Paulo Freire. Ela é articulada num momento em que 1/3 do país é levado a acreditar que as eleições não são justas. 

Há regras de mão da ação golpista contemporânea. Conforme literatura já ampla especializada, o ataque à democracia não ocorre mais com tanques e armas, mas deslegitimação das eleições, enfraquecimento do judiciário, pressão contra os poderes constituídos. Com isso, o aspirante a autocrata consegue se impor, enfraquecendo a sucessão de poder devida e os controles contra ele.

Ora, a anistia é o cavalo de troia de tudo narrado acima, que segue ainda vivo desde a tentativa de golpe em 2022/2023. A evocação da falsa pacificação vem embalada nas ameaças ao pleito de 2026 de Eduardo Bolsonaro, da articulação de impeachment de ministros do STF por senadores bolsonaristas em discurso aberto e no verborragia desregulamentadora da organização institucional da vida na comunidade política brasileira, um meio para o bolsonarismo continuar cometendo ataques e crimes contra a democracia.

Não tenho dúvida. Se ela passar, o Brasil correrá sérios riscos em 2026, mais do que já enfrentará com uma extrema direita forte e um imperador do mundo como Donald Trump de retaguarda. Lutar contra ela é sinônimo de proteger a democracia brasileira. Não há meio termo.

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