2 de setembro de 2025
Paulinho, o senhor poder pode muito, mas não tudo; aprenda com Álvaro Dias
Autor: Daniel Menezes
Confesso que tinha a impressão de que Paulinho Freire seria mais comedido do que Álvaro Dias na prefeitura de Natal. O ex-presidente da Assembleia, que encheu aquela casa com sua parentela no já histórico trem da alegria, é dado a determinados arrojos provincianos questionáveis. Na pandemia, brincou de receitar ivermectina em rádios da cidade, por exemplo. Tanto não acreditava naquele placebo eleitoral, que ele distribuiu junto com outras ações que levaram parte dos natalenses a acreditar que poderiam ir para a rua - e de lá efetivamente foram para o caixão -, que na primeira oportunidade tentou furar a fila da vacinação. O fato é que sobre Paulinho Freire errei redondamente.
Ele vem tendo a iniciativa de trocar fornecedores poderosos e históricos da cidade, colocando no lugar gente desconhecida, desconectada das elites e, alguns casos, até inexperiente. Álvaro Dias sabia o que podia fazer, mas ele não desafiava os poderes alheios assim gratuitamente - uma certa lógica conformista - e muito menos abria diversas frentes de ataque como vem fazendo Paulinho Freire.
Logo de partida, PAulinho Freire trocou fornecedores na Funcarte, colocando em seu lugar uma organização do Alagoas, com uma carona em licitação de lá e prestação de serviço mais caro. Além disso, jogou a classe cultural local, sempre respeitada por Carlos Eduardo e até em alguma medida por Álvaro Dias, para escanteio. Não parando por aí, agora foi para cima da Cooperativa Médica do RN, o Sindicato dos Médicos do RN e até da classe médica, que votou em peso nele. Na imprensa, que ele domina pela superioridade financeira de Natal em relação inclusive ao governo do RN, gerou a criação de um sindicato das rádios e TVs, uma reação à distribuição desigual de poder na área.
Paulinho Freire vem sendo bastante descuidado. Ele parece não ter entendido que venceu a eleição - do jeito que o GAECO narrou em 1100 páginas - para ser prefeito de Natal e não para se tornar imperador (da capital) do sol.
Sua tentativa de sustentar atual terceirização das Unidades de Pronto Atendimento com a Justiz e Proseg gera a dimensão da falta de noção. Estamos falando já de um contrato completamente desmoralizado pelo Tribunal de Contas do Estado, Ministério Público de Contas e por parte da imprensa - a que não publica um misto só de release, apelidos e baixarias -, isto com um histórico em que, no passado, situação semelhante terminou na polícia. Ela ainda está na memória do natalense e do inconsciente é possível emergir.
Vale a pena manter um contrato mais caro, em que o TCE e o MP dizem abertamente que teve licitação viciada e carece de fundamentação técnica, comprar uma briga com a classe médica, tudo para manter duas empresas sem tradição na área?
(A justificativa dada pelo secretário de saúde Geraldo Pinho ao Ministério Público de Contas demonstra o quanto a coisa está errada. Ele disse que a exigência de inscrição no conselho federal de administração, que beneficiou justamente a Justiz e a Proseg, reforça uma preocupação técnica. Solicitado a dissecar a tal vantagem, ele não soube dizer)
Além da precarização e ira contraída pelos médicos, bastará qualquer fiapo de irregularidade ou maiores indagações, para Paulinho carregar uma mancha para sua tentativa de reeleição que será impossível de apagar. E, convém estabelecer, PAulinho não irá enfrentar uma garapa de reeleição como Carlos Eduardo e Álvaro Dias, em que disputaram contra ninguém. Natália Bonavides é um nome forte e que vem talhando sua trajetória para o combate de 2028. Paulinho Freire parece não ligar e segue brigando na justiça, num certo bate-bola entre ele, as duas terceirizadas e a imprensa aliada. O grupo se comporta como se ninguém estivesse vendo tudo.
Freire é muito mais experiente do que eu. Mas aprendi com o tempo como o poder pode cegar. E Paulinho não está com os dois pés no chão. Ele me faz lembrar, neste aspecto, Micarla de Sousa. Ela também começou mexendo nas estruturas de poder, história e prestígio alocado por setores de Natal. Deu no que deu.
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