30 de agosto de 2025

O bolsonarismo, suas ideias e seus ratos, uma doença que não corresponde aos fatos

Autor: Daniel Menezes

Ricardo Valentim
Professor Associado da UFRN

A canção "O Tempo Não Pára", de Cazuza, lançada em 1988 — ano da nossa Constituição Cidadã —, ressoa com uma ironia amarga na contemporaneidade. Seus versos parecem prever um Brasil que, mesmo após a redemocratização, guardava em seu "museu de grandes novidades" uma ameaça silenciosa, uma nova tentativa de golpe. O poeta, em sua genialidade, jamais poderia imaginar que sua poesia se tornaria um retrato tão preciso da crise da COVID-19 no Brasil, pois ali seria revelada a face mais cruel do bolsonarismo: a falta de empatia diante da morte de milhares de brasileiros era realmente estarrecedor. Naquele momento, o nosso país estava sequestrado pelo maior estelionato eleitoral da república.

O bolsonarismo, na verdade, não surgiu do nada; houve um projeto para dar musculatura a um símbolo que chegou inclusive a ser apelidado de Mito, com a apropriação dos símbolos nacionais, por exemplo, a camisa da seleção brasileira. Apesar de se delinear em uma estrutura disfarçada de política, particularmente durante o impeachment de Dilma Rousseff — quando Bolsonaro bradou orgulhosamente o nome do Coronel Ustra como "o terror" da ex-presidente —, o país já estava adoecido. Caso contrário, o deputado federal do baixo clero teria, no mínimo, respondido na Câmara Federal por evocar, com prazer, cinismo e sarcasmo, os sofrimentos da ditadura militar impostos a uma mulher, que depois provaria que não houve pedaladas fiscais.


Alinhado ao impeachment, essa doença foi “nutrida” dolosamente pelos efeitos pirotécnicos da Operação Lava Jato. Sob a liderança de Sérgio Moro e de seus "asseclas" amestrados,
como o procurador Deltan Dallagnol, a Lava Jato criou um ambiente de ódio e polarização propício ao bolsonarismo, que nadou de braçada no lixo da ignorância propagado pelas fake news. É preciso conectar os pontos para compreender esses movimentos, o que fica muito evidente com as eleições de Sérgio Moro (Senador) e Deltan Dallagnol (Deputado Federal).

Esses movimentos, bolsonarismo e lavajatismo, de forma simbiótica e dolosa, corroeram as instituições, destruindo-as de forma endógena e exógena. Pior: fizeram com que qualquer pensamento contrário se tornasse alvo de linchamento público, especialmente após a prisão do ex-presidente Lula — era “proibido” criticar a Lava Jato no Brasil. A prisão de Lula, antes do trânsito em julgado (ainda em segunda instância), foi a maior violação constitucional a que o Brasil assistiu, servindo somente para fortalecer o bolsonarismo, que foi alimentado por um ódio que tomou conta do senso comum — ódio distribuído por meio de mentiras, calúnias e difamações. Estávamos na era das fake news, a pós-verdade. Bolsonaro, um "messias" que por um “milagre” foi salvo de uma facada, foi eleito legitimamente, mas seu governo se constituiu como o primeiro estelionato do bolsonarismo. Seu populismo confundia a sociedade e o papel social de nossas instituições. As ideias propagadas pelo bolsonarismo nunca corresponderam aos fatos; era algo dissonante da empatia, da vida e da humanidade, sempre foi anticiência. A piscina moral e ética do bolsonarismo, sempre cheia de ratos, nunca teve uma base filosófica e social; é avessa ao
pensamento crítico e científico.

O bolsonarismo, antes da eleição do Bolsonaro para presidente, deu muitos sinais de seus desvios éticos e morais, que foram negligenciados. Um momento emblemático foi o caso da deputada Maria do Rosário, quando o deputado disse: “eu só não te estupro porque você não merece”. A deputada foi atacada de forma misógina por fazer um discurso em defesa das vítimas da ditadura militar. Se o Brasil já não estivesse adoecido naquele momento, talvez o deputado Bolsonaro tivesse sido cassado por quebra de decoro. O Brasil não percebeu que estava diante de um "museu de grandes novidades", pois a nossa democracia estava sendo atacada a olhos nus. Estávamos anestesiados pelas fake news e por uma rede de mentiras que se propagavam pela Internet — o lavajatismo era o grande motor do bolsonarismo.


Concomitante a esse fenômeno social que atravessava o Brasil, havia um procurador sem escrúpulos que usou um PowerPoint pirotécnico e mentiroso, cuja repercussão foi a eleição de um presidente que se travestia de messias — uma linha tênue entre o estado laico e o estado teocrático rondava o Brasil. Bolsonaro não tinha um projeto de país, mas sim um projeto de poder totalitário e autoritário. Fato comprovado no dia 8 de janeiro de 2023, quando o bolsonarismo, uma doença que corrói o Brasil, mostrou a sua face mais violenta contra a democracia, expondo um plano golpista que incluía, inclusive, a morte do presidente eleito (Luiz Inácio Lula da Silva) e de um ministro do STF (Alexandre de Moraes).

Acreditem, o bolsonarismo não é política, nunca foi. É uma doença que destrói as instituições brasileiras, afeta o bom senso, a ética e a moral, e afronta a Constituição Federal, inclusive com notas de traição à nossa pátria. Se aproveita de nossas instituições para se infiltrar e se manifestar de forma destrutiva e corrosiva, camuflada por uma aura de moralidade que por vezes se passa por cristã. A piscina cheia de ratos, que Cazuza poderia ter previsto, é a imagem de um movimento que, em vez de construir, se dedicou a desgastar os pilares da democracia, deixando um rastro de ódio e intolerância em nossa sociedade. A cura para essa doença passa por reafirmar os valores democráticos e fortalecer nossas instituições. No mundo atual, a democracia ainda precisa ser defendida.


O Brasil precisa de uma vacina contra o bolsonarismo para se curar. Este país de tamanho continental e soberano não merece ser submetido a essa doença.
Fontes:
● "O Tempo Não Pára", Cazuza (1988).
● “CNJ diz que Sergio Moro, Deltan Dallagnol e Gabriela Hardt se uniram para desviar R$ 2,5 bilhões”, CNN (16/04/24).
● “Bolsonaro vira réu por falar que Maria do Rosário não merece ser estuprada. Deputado disse que ela é 'feia'; ele responderá por apologia ao crime e injúria”, G1 (21/06/2016).
● “Quem é o general que admitiu ser autor do plano para matar Lula e Moraes”, CNN (25/07/25).
● “Justiça mantém decisão que isenta Dilma Rousseff de ‘pedaladas fiscais’”, CNN (21/08/23 ).

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