13 de dezembro de 2025

EXCLUSIVO - Natal paga o leito de UTI mais caro do Brasil, sustenta hospitais privados dependentes do dinheiro público e enterra o Hospital Municipal para evitar que essa rede quebre

Autor: Daniel Menezes

Os dados comparativos de valores pactuados para leitos de UTI adulto regular colocam Natal/RN no topo do ranking nacional de diárias mais caras de UTI, com pagamento de R$ 3.725,84 por leito. O valor está muito acima do praticado em outras capitais brasileiras, inclusive grandes centros como São Paulo, Salvador e Recife, onde as diárias variam entre R$ 2.200 e R$ 3.300. O número deixa claro que a capital potiguar opera fora de qualquer parâmetro técnico ou econômico razoável, tornando-se um caso isolado no país.

Esse sobrepreço não é um detalhe administrativo: ele alimenta uma rede privada de hospitais que depende diretamente desses repasses para sobreviver. Sem o pagamento contínuo das diárias infladas pela Prefeitura de Natal, parte significativa desses hospitais não se sustenta financeiramente e simplesmente quebra. É justamente por isso que não há interesse real, nem do poder público municipal nem da saúde privada contratada, em concluir e colocar em funcionamento o Hospital Municipal de Natal. A abertura de uma estrutura própria, com leitos públicos de média e alta complexidade, reduziria drasticamente a contratação de UTIs privadas e desmontaria esse modelo de dependência.

O arranjo cada vez mais lucrativo vem forçando o aumento dos repasses do Orçamento Geral do Estado (OGE) para a Prefeitura de Natal, destinados de forma pactuada a custear parte desses leitos. Nos últimos anos, o valor saltou de cerca de R$ 4 milhões para aproximadamente R$ 12 milhões mensais, reforçando o fluxo de recursos públicos para o mesmo sistema. Nesse contexto, a insistência da Secretaria Municipal de Saúde - também operada por agentes alheios aos seus quadros já vistos em reuniões e atividades administrativas da pasta - em manter contratos e buscar Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) não é uma solução emergencial, mas a preservação consciente de um modelo que beneficia hospitais privados às custas do erário. Com isso, o Hospital Municipal segue inacabado, enquanto Natal continua refém da UTI mais cara do Brasil e de uma política de saúde desenhada para manter interesses privados vivos — e muito bem pagos.

Segue o levantamento.

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