4 de dezembro de 2025
Cadu nega “bomba fiscal” para Walter e descarta explosão da folha em 2026
Autor: Daniel Menezes
DO AGORA RN
O secretário da Fazenda do Rio Grande do Norte, Cadu Xavier, negou que a gestão da governadora Fátima Bezerra (PT) vá deixar uma “bomba fiscal” para o vice-governador Walter Alves (MDB) assumir a partir de abril. Entre outros pontos, Cadu afastou, em entrevista à rádio 98 FM, a possibilidade de uma explosão nos gastos com pessoal no próximo ano.
Fátima Bezerra já anunciou que vai renunciar ao governo no início de abril para ficar apta a disputar o Senado. Nos últimos dias, porém, surgiu a especulação de que o vice, Walter Alves, não assumirá a gestão em função da crise fiscal. Neste cenário, a gestão ficaria para o presidente da Assembleia Legislativa ou para o presidente do Tribunal de Justiça – que teria de convocar eleição indireta.

Secretário de Fazenda, Cadu Xavier, reafirmou pré-candidatura ao Governo em 2026 e pediu defnição de Walter até dia 31 - Foto: José Aldenir/Agora RN
“Um possível colapso do Governo Walter desmorona tanto a minha candidatura quanto a candidatura da governadora Fátima. Ele não nos interessa”, argumentou Cadu, que é pré-candidato do PT ao Governo do Estado. Em seguida, reforçou que não faz sentido armar um cenário de caos para quem assumiria o governo por poucos meses: “Se a gente armar uma bomba no colo dele, ela volta para o meu colo, para o colo da governadora instantaneamente. É o nosso governo. Só muda o técnico”.
A analogia esportiva foi repetida durante a entrevista para ilustrar o processo de troca no comando do Executivo. “A governadora vai passar o bastão para Walter, mas a corrida é até o final. Ele vai correr pela gente”, disse o secretário, ao insistir que o interesse do grupo é preservar o funcionamento do Estado e não criar dificuldades artificiais para a próxima gestão.
Cadu também refutou a informação de que os gastos com pessoal vão saltar de patamar já no primeiro quadrimestre de 2026. “Seria uma irresponsabilidade sem tamanho aumentar a folha de R$ 1 bilhão para R$ 1,3 bilhão”, reagiu, ao comentar estimativas que circularam em redes e em parte da imprensa.
Na sequência, o secretário explicou os números que constam na proposta orçamentária e detalhou a projeção oficial: “O crescimento da folha no ano que vem deve ficar entre 7% a 8%”. Segundo ele, a impressão de aumento abrupto nasce de uma leitura apressada dos dados da proposta de Lei Orçamentária enviada pelo governo, sobretudo quando se soma ao bolo a dimensão previdenciária.
Cadu reconheceu que há parcelas de reajustes pactuadas para 2026, resultantes de negociações fechadas em 2024, mas disse que o desenho é conhecido e programado. “Naquela negociação que a gente fez em 2024, ficou uma parte do aumento para o ano que vem. Uma em janeiro e outra em abril. Então, a soma das duas é o IPCA. Deve ser o IPCA dobrado”, explicou, observando que, nos anos seguintes, a tendência é a reposição apenas pela inflação.
Além disso, sustentou que o Estado adotou uma política formal para conter o crescimento da despesa de pessoal, limitando a evolução da folha a 80% da variação da receita corrente líquida. A regra, disse ele, cria “folga” anual automática entre arrecadação e salários, o que contribui para manter as contas dentro dos limites de responsabilidade.
Fornecedores, “rombo” e os números que circularam
Cadu também enfrentou a polêmica em torno de supostos valores bilionários propagados como dívidas do governo. Ao ser instado a comentar estimativas de R$ 5 ou R$ 6 bilhões, reagiu: “Não existe. Esse número eu não sei de onde saiu. Esse número não foi da peça orçamentária. É muito longe disso”.
Ele destacou a evolução dos “restos a pagar” — compromissos liquidados em exercícios seguintes — para sustentar que houve melhora ao longo dos anos. O patamar herdado, segundo o secretário, teria sido de cerca de R$ 3 bilhões, enquanto a projeção de encerramento de 2025 seria próxima de R$ 1,1 bilhão. “A gente vem reduzindo ao longo dos anos o ‘resto a pagar’, mas também não tem como zerar de um ano para o outro”, ponderou.
Quando o debate migrou para os precatórios, Cadu fez distinção didática entre as categorias de dívida. Explicou o conceito para o público e disse que os valores mais altos se referem, sobretudo, aos precatórios. “Os R$ 6 bilhões não são com fornecedor”, enfatizou, acrescentando que se trata de dívidas decorrentes de processos “de 10, 15 anos” em que o Estado foi condenado.
Transição e o prazo político
Na seara política, Cadu relatou que o processo de transição entre a governadora e o vice está em curso desde o segundo semestre e envolve indicações administrativas e uma equipe técnica de análise das contas. Segundo ele, a agenda recente com Walter Alves foi “técnica”, para dirimir dúvidas e apresentar dados atualizados.
O secretário de Fazenda afirmou que cobrou um prazo para a definição final. “Essa decisão de rumos não pode passar de 31 de dezembro”, afirmou, defendendo que a clareza até o fim do ano é fundamental para reduzir ruído, dar segurança à administração e organizar as pré-campanhas.
Perguntado se o silêncio temporário de Walter prejudica o projeto político, Cadu relativizou e reconheceu a apreensão como legítima. “Toda preocupação revela uma responsabilidade”, disse. Para ele, a avaliação de cenários é parte natural da política e não representa rompimento. “A minha relação com o Walter é muito boa”, assegurou.
A entrevista também explorou cenários alternativos. Caso o vice não assuma em abril, Cadu explicou que há uma cadeia institucional prevista: a presidência da Assembleia Legislativa poderia assumir temporariamente e, não sendo possível, haveria novas providências legais, incluindo a hipótese de eleição indireta. O secretário, contudo, frisou que o plano do grupo é manter o desenho atual e evitar solavancos institucionais.
Cadu Xavier garantiu que sua pré-candidatura ao Governo permanece, independentemente do desfecho. “Não há alteração no projeto político”, afirmou. E reforçou: “A minha intenção não muda. Não há discussão no partido nesse momento de mudança de rumo, de projeto”.
Cadu também disse que a governadora deve manter a pré-candidatura ao Senado por relevância nacional do projeto político e pela construção de maioria para sustentar um eventual novo mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nessa linha, ressaltou a importância da aliança entre PT e MDB e reconheceu que as conversas, por sua natureza, “se nacionalizam”.
Chapa e possíveis nomes para 2026
Ao ser provocado sobre a composição da chapa majoritária e, especificamente, sobre o segundo nome ao Senado, Cadu citou o ex-senador Jean Paul Prates como possibilidade. Fez elogios pessoais a Jean – que acabou de pedir desfiliação do PT – e considerou positiva a eventual filiação dele ao PDT, partido do arco de alianças nacional e local. Disse que Prates “tem serviços prestados” e histórico de atuação no RN, além de ser “muito bem-vindo” ao campo político do grupo.
No relato, também destacou o papel do presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira (PSDB), como “fundamental” para a coalizão e defendeu a manutenção da unidade.
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