30 de novembro de 2025
VEJA COMPARATIVO - Fátima Bezerra deixará o governo em situação muito melhor do que Rosalba entregou a Robinson e Robinson entregou a ela
Autor: Daniel Menezes
A travessia recente do Rio Grande do Norte pelos governos Rosalba Ciarlini, Robinson Faria e Fátima Bezerra mostra, com clareza, como Walter Alves — cotado para assumir o Executivo em março de 2026 — encontrará um Estado em condições significativamente melhores do que as vividas nas transições anteriores. A comparação entre as três gestões nas áreas de contas públicas, educação, segurança e saúde revela um padrão evidente: enquanto Rosalba e Robinson deixaram quadros críticos, Fátima deve entregar um governo com indicadores menos explosivos, serviços mais estruturados e finanças mais equilibradas, ainda que desafiadoras.
No fim do mandato de Rosalba Ciarlini (2011–2014), o Tribunal de Contas apontou violação à Lei de Responsabilidade Fiscal, criação irregular de cargos e abertura de créditos sem autorização legislativa — um diagnóstico que escancarava o esgotamento do caixa estadual. A então governadora encerrou o mandato sem pagar integralmente a folha, após tentar sem sucesso acessar recursos da Previdência para cobrir salários. Paralelamente, saúde, educação e segurança enfrentavam sucateamento, falta de investimentos e denúncias de abandono da estrutura física. Embora houvesse obras pontuais, especialmente vinculadas ao RN Sustentável, o quadro geral era de deterioração fiscal e administrativa.
Robinson Faria recebe esse Estado fragilizado em 2015 e o entrega em situação ainda mais crítica. Ao fim de 2018, deixa quatro folhas salariais atrasadas — parte do 13º de 2017, novembro, dezembro e o 13º de 2018 — acumulando um passivo próximo de R$ 1 bilhão apenas em salários. Na segurança, o RN registra as maiores taxas de homicídio de sua história recente: 2.412 mortes violentas em 2017 e 1.964 em 2018, com episódios de paralisação das forças policiais e decretação de calamidade pública no setor. A rede de educação e saúde sofre com atrasos de salários, falta de investimentos e colapso de serviços essenciais, compondo um cenário de instabilidade social e institucional. Na saúde, o mínimo constitucional não era aplicado.
É sobre esse terreno que Fátima Bezerra inicia o governo em 2019. Enfrentando o que entidades e decisões judiciais classificavam como um “estado falido”, a governadora reorganiza as contas, negocia passivos e pactua calendários de pagamento com o funcionalismo. Em 2022, quita a última folha herdada, pondo fim ao ciclo de salários atrasados que se arrastava desde 2015. A partir daí, estabelece um padrão de pagamento em dia, embora continue enfrentando pressões por reajustes e episódios pontuais de atraso no 13º em anos eleitorais ou de queda de receita.
Na segurança, o contraste com o período anterior é expressivo: após a explosão de homicídios no governo Robinson, o RN vê uma curva de queda contínua a partir de 2019, alcançando em 2024 o menor número de Crimes Violentos Letais Intencionais em mais de uma década. A gestão credita o resultado à ampliação do efetivo, integração entre as forças policiais e investimentos em tecnologia e inteligência. Ainda há preocupação com crimes patrimoniais e violência contra grupos vulneráveis, mas o quadro está distante da calamidade registrada em 2018.
Na educação, a rede estadual vive um ciclo de ampliação e reestruturação: mais de 40 escolas foram reformadas e ampliadas via Governo Cidadão, a rede de tempo integral saltou de 48 para 148 escolas e a política de alfabetização Pró-Alfa RN articula esforços com municípios para atacar defasagens históricas. Na saúde, a expansão de leitos de UTI durante a pandemia, as reformas nos hospitais regionais e os novos serviços especializados mostram um sistema menos colapsado do que o que Fátima herdou — embora persistam gargalos estruturais, sobretudo no financiamento e na regulação de acesso.
Se a governadora deixar o cargo em março de 2026 para disputar o Senado, Walter Alves herdará um RN mais organizado do que aquele recebido por Robinson e, sem dúvida, muito mais estável do que o que chegou às mãos de Fátima. Sem folhas atrasadas, com curva de homicídios em queda, obras e serviços reestruturados, escolas e hospitais ampliados e programas consolidados, o próximo governo deixará de operar exclusivamente na lógica emergencial. Apesar dos desafios ainda grandes — especialmente previdenciários, fiscais e estruturais —, o Estado será entregue em uma condição incomparavelmente melhor do que nas duas transições anteriores.
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