30 de novembro de 2025

Paulinho fortaleceu Eriko para impedir que ele sofresse o mesmo cerco que impôs a Álvaro Dias

Autor: Daniel Menezes

A movimentação de Paulinho Freire nos bastidores da Câmara Municipal de Natal nunca foi gratuita — e a eleição de Eriko Jácome para a presidência da Casa é o exemplo mais evidente disso. Paulinho trabalhou para colocar Eriko no comando do Legislativo justamente para evitar que o próximo presidente fizesse com ele o que ele próprio fizera com Álvaro Dias: usar a estrutura da Câmara como instrumento de pressão política. Foi assim que Paulinho se projetou, enfrentou o então prefeito e se firmou como candidato do grupo governista à Prefeitura em 2024. Ele se elegeu deputado federal, mas continuou influenciando a dinâmica da Câmara a ponto de, junto com Eriko na condição de liderado, emparedar Álvaro em um momento crítico. O resultado dessa pressão ficou claro quando o Executivo precisou alterar às pressas o regramento das emendas impositivas em agrado aos vereadores, em 2024, para conseguir ter a autorização e utilizar cerca de R$ 250 milhões do empréstimo em pleno ano eleitoral.

Esse jogo de força passou praticamente despercebido pela cobertura local, que pouco ilumina as tensões reais entre Legislativo e Executivo. Mas o fato é que Álvaro Dias foi chantageado politicamente — e não só por divergências envolvendo Carlos Eduardo. O medo de Paulinho e do grupo de vereadores em relação a um eventual retorno de Carlos Eduardo, conhecido por não ceder ao toma-lá-dá-cá e por impor limites duros ao Legislativo, pesou diretamente no tabuleiro. A Câmara de Natal, nas mãos de um presidente frágil e sob a sombra de um líder externo mais experiente, virou peça estratégica de proteção, de vingança e de bloqueio. Nesse cenário, o Executivo não governou sozinho: governou sob condicionamento. E o Legislativo, longe de cumprir seu papel institucional, funcionou como instrumento de interesses particulares e de autopreservação política.