22 de novembro de 2025

A cassação de Brisa não mira só a oposição — mira 2028

Autor: Daniel Menezes

A tentativa de cassar a vereadora Brisa Bracchi em Natal não é apenas um ataque direto à oposição: é uma reação antecipada ao cenário de 2028. O alvo, na prática, não é apenas Brisa — é Natalia Bonavides, que deve disputar novamente a prefeitura e surge como nome competitivo diante de uma gestão fragilizada. Paulinho Freire sabe que, quanto mais enfraquecida estiver a oposição agora, menor será o impacto de uma candidatura como a de Natalia daqui a quatro anos.

Num contexto em que Paulinho coleciona obras inacabadas, não apresenta um plano concreto de conclusão e herda uma cidade marcada por rombos de gestão, a disputa futura se torna incômoda. É nesse vácuo de entregas que Natalia tem a chance de crescer politicamente, especialmente entre setores da cidade cansados da repetição de velhos padrões administrativos. Neutralizar a oposição hoje também significa tentar neutralizar o potencial eleitoral de Bonavides no próximo ciclo.

Há ainda um aspecto histórico que agrava o quadro: Natal vive, pela primeira vez em 20 anos, uma oposição robusta, articulada e com forte presença pública. Paulinho enfrenta uma situação inédita para um prefeito da cidade e tem reagido com truculência. Sua dificuldade em conviver com o contraditório, somada ao receio de perder espaço diante de uma oposição organizada, explica o clima de endurecimento político. A cassação de Brisa, nesse sentido, é menos sobre o que ela fez e mais sobre o que representa: o risco real de perda de poder em 2028.

E há um efeito colateral igualmente conveniente: enquanto a cidade discute Brisa, ninguém fala das inúmeras obras atrasadas, dos cronogramas empurrados para frente e da ausência de entregas concretas. Diversas obras estão atrasadas em Natal pela Administração Pública Municipal — algumas paradas, outras sem previsão real de conclusão, e quase todas fora do discurso oficial. O debate sobre cassação funciona, assim, como uma cortina de fumaça que desloca o foco da população dos problemas estruturais e das responsabilidades administrativas que deveriam estar no centro da agenda pública.

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