21 de novembro de 2025

Demora em julgar ação contra Paulinho, Álvaro e vereadores pelo abuso de poder mais escancarado de uma eleição em Natal começa a cheirar impunidade

Autor: Daniel Menezes

A morosidade no julgamento, ainda na primeira instância, do processo que apura abuso de poder político e econômico envolvendo Paulinho Freire, Álvaro Dias e diversos vereadores nas eleições de 2024 já começa a levantar um odor incômodo de impunidade. Enquanto o caso se arrasta sem perspectiva clara de conclusão, o contraste com decisões tomadas em outros municípios do RN se torna gritante: ao menos dez prefeitos potiguares foram cassados recentemente em situações muito menos graves, muitas vezes por irregularidades pontuais ou de impacto eleitoral restrito.

Em Natal, ao contrário, o processo que envolve uma estrutura inteira de poder — máquina pública, cargos comissionados, uso de serviços estatais, contratos e ingerências políticas diversas — permanece parado, sem desfecho, como se o tempo pudesse resolver o que a Justiça ainda não julgou. A lentidão provoca desconfiança e reforça a percepção de que agentes com forte influência política continuam desfrutando de uma blindagem informal que não existe para gestores de cidades menores.

Há ainda um elemento estratégico nessa protelação: quanto mais o processo demora, maiores são as chances de Paulinho Freire concluir seu mandato mesmo que venha a ser cassado, já que poderá recorrer sucessivamente às instâncias superiores. Essa, aliás, é uma das razões atribuídas ao comportamento da defesa, que contesta provas, apresenta embargos em série e se vale de todos os mecanismos possíveis para prolongar o desfecho. No ritmo atual, o calendário passa a ser um aliado tão relevante quanto qualquer argumento jurídico.

A ausência de uma resposta efetiva do Judiciário alimenta uma sensação crescente de ilegitimidade: uma parcela significativa da população natalense não reconhece a vitória de Paulinho Freire como plenamente legítima, justamente também porque o seu processo permanece estagnado. Em um cenário em que prefeitos são afastados pelo TRN/RN por muito menos, a demora em Natal soa como exceção demais para ser ignorada.

Em um momento de forte desgaste institucional, o mínimo que se espera é celeridade, transparência e firmeza. Uma decisão é fundamental para restaurar a confiança pública. O silêncio, esse sim, corrói a credibilidade de todos os envolvidos.

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