19 de novembro de 2025
Davi Alcolumbre escolhe Alessandro Vieira para relatar o PL Antifacção
Autor: Daniel Menezes
Congresso em Foco - O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), decidiu indicar o senador Alessandro Vieira (MDB-SE) para relatar no Senado o projeto de lei 5.582/2025, que estabelece o novo Marco Legal do Combate ao Crime Organizado, conhecido como PL Antifacção. A escolha foi anunciada na noite dessa terça-feira (18), momentos antes de a Câmara aprovar a proposta, relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), por 370 votos a 110, sem apoio do governo (veja como cada deputado votou). Houve, ainda, três abstenções.
A decisão de Alcolumbre também foi tomada em meio a uma disputa interna: Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Sergio Moro (União-PR) sinalizaram interesse em assumir a relatoria, mas o presidente do Senado optou por Vieira, alegando que sua nomeação evita "contaminação ideológica" e protege o projeto.

Relator do PL Antifacção no Senado, Alessandro Vieira também relata a CPI do Crime Organizado.Carlos Moura/Agência Senado
"O senador tem uma longa carreira jurídica e na polícia judiciária de Sergipe. Também tem na sua agenda pessoal a proteção aos brasileiros contra o crime organizado", afirmou Davi.
A escolha foi apoiada por senadores como Daniella Ribeiro (PP-PB) e Eduardo Braga (MDB-AM) e recebeu elogios do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), que classificou a decisão como "inteligente e assertiva".
Um relator com histórico na segurança pública
Delegado de polícia por 17 anos em Sergipe, Alessandro Vieira comandou a Polícia Civil do estado em 2016 e ficou conhecido por investigações de combate à corrupção inspiradas na Operação Lava Jato. Foi exonerado em 2017, mas manteve popularidade e foi eleito senador em 2018 pela Rede, com mais de 474 mil votos.
No Senado, consolidou um perfil técnico e independente, crítico tanto de decisões do governo Bolsonaro quanto do governo Lula. É atualmente relator da CPI do Crime Organizado, o que pesou para sua indicação ao PL Antifacção.
A escolha ocorre simultaneamente à análise de outro tema sensível sob sua responsabilidade: como relator, foi responsável pela rejeição da PEC 3/2021, conhecida como PEC da Blindagem, que dificultava a investigação de parlamentares e outras autoridades.
O que está em jogo no PL Antifacção
O projeto aprovado na Câmara cria um novo marco legal para enfrentar facções ultraviolentas, milícias e grupos paramilitares. A proposta passou por seis versões sob relatoria de Derrite e incorpora dispositivos da Lei Antiterrorismo, endurecendo penas e ampliando instrumentos de investigação e repressão.
Entre os pontos centrais, o texto prevê:
- Penas mais duras: de 20 a 40 anos para líderes de facções.
- Exigência de cumprimento de até 85% da pena antes da progressão.
- Vedação de indulto, anistia, graça e liberdade condicional.
Reforço à investigação
- Tipificação de novos crimes, como domínio territorial e sabotagem de serviços públicos.
- Uso de drones e equipamentos de contrainteligência como causa de aumento de pena.
- Criação de forças-tarefa com participação obrigatória do Ministério Público.
- Julgamento colegiado para homicídios cometidos por facções.
Ataque ao patrimônio
- Bloqueio, sequestro e perdimento de bens de origem ilícita.
- Ações civis paralelas para confisco.
- Possibilidade de apreender empresas usadas pelo crime.
- Banco nacional de dados interoperável com estados.
Execução penal mais rígida
- Líderes cumprirão pena em presídios federais de segurança máxima.
- Dependentes de integrantes dessas organizações não terão auxílio-reclusão.
O relator sintetizou a lógica da proposta. "O objetivo é restringir o espaço de atuação do crime organizado, impedir sua reprodução econômica e restabelecer o poder do Estado sobre o território nacional", disse Derrite.
Críticas do governo Lula
Embora o projeto seja de iniciativa do Ministério da Justiça, o governo atuou contra o texto final aprovado na Câmara. A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, classificou a versão aprovada como uma "lambança legislativa".
Os principais pontos de divergência são:
1. Criação do tipo penal "organização criminosa ultraviolenta"
O governo argumenta que o novo conceito não revoga a lei de 2013 que define organização criminosa. Isso poderia:
- gerar insegurança jurídica;
- permitir brechas para advogados pleitearem enquadramento na lei antiga, mais branda;
- enfraquecer o combate às facções.
2. Divisão dos bens apreendidos
O texto redistribui valores entre forças locais envolvidas nas operações, reduzindo a fatia da União.
O Ministério da Justiça alerta que isso pode desfinanciar a Polícia Federal, que depende desses recursos.
3. Limites ao perdimento extraordinário de bens
Para o governo, Derrite reduziu instrumentos de confisco, enfraquecendo a asfixia financeira das organizações.
Disputas regimentais e tentativas de mudança
Governistas tentaram retirar o projeto de pauta ou adiar a discussão, mas foram derrotados.
Destacaram ainda o desejo de restaurar o texto original do Ministério da Justiça, também rejeitado.
Em outra frente, a bancada do PL buscou equiparar formalmente facções criminosas a grupos terroristas - proposta barrada por questões regimentais: como não fazia parte do escopo original, a mudança poderia anular o projeto.
O relator incorporou trechos do projeto de lei 1.283/2025, de Danilo Forte (União-CE), mas sem adotar a equiparação plena. Ainda assim, Forte elogiou o parecer.
Ajustes à vista no Senado
A expectativa é que o projeto chegue ao Senado ainda nesta semana. A partir daí, Alessandro Vieira iniciará rodadas técnicas com: Ministério da Justiça, Ministério da Fazenda, Polícia Federal, secretarias estaduais de segurança e especialistas em direito penal e segurança pública.
O governo tentará reverter pontos-chave da Câmara, como:
- a definição de organização criminosa ultraviolenta;
- o alcance do perdimento extraordinário de bens;
- a repartição dos recursos apreendidos.
Se houver mudanças substanciais, o que é provável, o texto precisará voltar à Câmara.
Aliados do relator, porém, afirmam que a intenção é dar celeridade, aproveitando o acúmulo técnico da CPI do Crime Organizado e a articulação política de Alcolumbre.
Um Senado sob pressão
O avanço das facções em vários estados, especialmente no Norte e no Nordeste, e o aumento de ataques a agentes de segurança pública criaram um ambiente de urgência.
A disputa por protagonismo entre Congresso, Executivo e forças policiais tornou o PL Antifacção uma das matérias mais sensíveis do semestre.
A escolha de Alessandro Vieira é vista por aliados como uma tentativa de reequilibrar esse debate, unindo perfil técnico, capacidade de diálogo e distanciamento das disputas ideológicas que marcaram a tramitação na Câmara.
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