16 de novembro de 2025
INJUSTIÇA HISTÓRICA: depois de blindar corruptos por todo o seu período democrático — e ignorar usos questionáveis de emendas por outros vereadores — Brisa pode ser a primeira cassada pela Câmara do Natal
Autor: Daniel Menezes
A Câmara Municipal de Natal mantém um histórico que chama atenção: em mais de três décadas desde a Constituição de 1988, jamais cassou um vereador, ainda que o Legislativo tenha atravessado consecutivas crises, operações policiais, flagrantes de peculato e condenações judiciais envolvendo parlamentares. Crimes graves, desvios milionários e decisões definitivas nunca resultaram na aplicação da punição máxima prevista pelo próprio regimento da Casa.
Condenações judiciais nunca resultaram em cassação
Ao longo dos anos, diversos vereadores e ex-vereadores de Natal foram condenados pela Justiça, incluindo casos com decisões confirmadas em segunda instância e até situações já transitadas em julgado. As condenações envolveram crimes como:
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Corrupção
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Peculato
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Associação criminosa
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Compra de votos
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Uso de documentos falsos
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Desvio de verbas públicas
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Apropriação indevida de salários de assessores (rachadinha)
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Fraudes administrativas e manipulação de votações estratégicas
Alguns processos envolveram cifras milionárias e resultaram em penas de reclusão, perda de direitos políticos, devolução de recursos e reconhecimento de graves danos ao erário. Ainda assim, nenhum vereador foi cassado pela Câmara Municipal de Natal em decorrência dessas condenações.
O contraste: o caso Brisa Bracchi
Esse cenário de indulgência institucional se torna ainda mais contraditório diante do processo contra a vereadora Brisa Bracchi (PT), que pode ser a primeira a sofrer cassação na história da Casa — justamente em um caso em que não há comprovação de ilícito e em que a garantia de defesa foi seriamente comprometida.
Brisa apresentou sua defesa no prazo legal. O relator do processo lhe prometeu analisar o material com cuidado, mas menos de 24 horas depois, surgiu o parecer pronto pedindo a cassação. O prazo é tecnicamente incompatível com qualquer exame adequado de documentos, anexos e argumentações jurídicas. A rapidez foi tão incomum que a própria vereadora acreditou, inicialmente, que se tratava de uma notícia falsa ao se deparar com a notícia em blogs locais como O Potiguar revelou.
Além disso, a acusação — de uso político-partidário de emenda parlamentar — não encontrou amparo técnico. O fiscal da Funcarte, responsável por verificar a execução do projeto financiado, declarou oficialmente à comissão que não encontrou nenhuma irregularidade.
A seletividade evidente
O processo contra Brisa se torna ainda mais destoante quando comparado ao tratamento que outros vereadores receberam no mesmo período.
A imprensa local revelou que emendas de outros parlamentares foram utilizadas ou direcionadas de forma controversa, incluindo:
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Promoção pessoal de vereador, com eventos e materiais que destacavam sua imagem;
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Financiamento de festa privada;
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Uso de emenda para custear festa de aniversário, com finalidade não pública;
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Realização de evento para promover ações de uma associação ligada ao próprio cônjuge de vereador;
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Destinação de recursos para empresas privadas, o que é ilegal por desvio da finalidade pública;
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Eventos com evidente caráter de autopromoção política, sem qualquer natureza cultural ou social justificada.
Apesar da repercussão e da gravidade potencial dessas situações, nenhum desses casos resultou em repreensão, advertência, investigação interna ou ameaça de cassação. Não houve sindicância, não houve comissão processante, não houve andamento disciplinar — nada.
Em contrapartida, Brisa enfrenta um processo acelerado, baseado em uma acusação não comprovada, rejeitada pelo fiscal do executivo municipal co-responsável pela efetivação da emenda, e conduzido com violação manifesta do direito ao contraditório e à ampla defesa.
O contraste é objetivo:
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Crimes graves, com condenações judiciais, nunca motivaram cassação.
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Irregularidades e usos questionáveis de emendas por outros vereadores, expostos pela imprensa, não geraram qualquer reprimenda.
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Brisa, com acusação tecnicamente descartada, é alvo de um processo sumário e politicamente marcado.
Assim, a possível cassação de Brisa Bracchi não seria apenas um marco inédito na história do Legislativo natalense. Seria um marco negativo, revelando que a Câmara de Natal está disposta a exercer seu poder disciplinar não diante das irregularidades comprovadas, mas diante de uma vereadora de oposição, tornando o processo um símbolo claro de seletividade política e perseguição.
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