16 de novembro de 2025

Comunista Jara e ultraconservador Kast vão disputar segundo turno da eleição no Chile

Autor: Daniel Menezes

Estadão - SANTIAGO - O Chile terá um segundo turno entre Jeannette Jara, do Partido Comunista Chileno, e José Antonio Kast, do Partido Republicano, indicou o Serviço Eleitoral do país na noite deste domingo, 16.

Com 92,66% das urnas apuradas, a candidata do governo, apoiada pelo presidente Gabriel Boric, tem 26,76% dos votos, seguida de perto por Kast, com 24,05%, segundo dados da Justiça eleitoral chilena.

Em terceiro lugar, está o populista Franco Parisi, do Partido de La Gente, com 19,55%, à frente do libertário Johannes Kaiser, com 13,94%, e de Evelyn Matthei, de centro-direita, com 12,59%.

Os demais candidatos, Harold Mayne-Nicholls, Marco Enríquez-Ominami e Eduardo Artés, somam pouco mais que 3% dos votos.

A tendência, segundo os números do serviço eleitoral, é irreversível. Mais de 15 milhões de pessoas estavam habilitadas a votar nas eleições deste domingo, 16, que renovará também a Câmara e o Senado.

José Antonio Kast (à esquerda) e Jeannette Jara (no centro da foto) são os favoritos para chegar ao segundo turno no Chile Foto: Esteban Felix/ AP

José Antonio Kast (à esquerda) e Jeannette Jara (no centro da foto) são os favoritos para chegar ao segundo turno no Chile Foto: Esteban Felix/ AP

Por volta das 20h, os principais concorrentes de Kast por uma vaga no segundo turno com Jara reconheceram a derrota.

Johannes Kaiser, que figurava nas pesquisas como uma ameaça ao ultraconservador, admitiu o resultado ruim - deve terminar em quarto lugar. Ele apoiará Kast no segundo turno.

“Vamos apoiá-lo porque a alternativa é Jeanette Jara”, disse.

Evelyn Matthei também felicitou Kast e deve apoiá-lo no segundo turno.

A surpresa na disputa, até o momento, é a terceira colocação de Parisi. O outsider populista, cujo mote de campanha era “nem fachos nem comunas” teve uma votação expressiva no norte do Chile, que devem ser decisivos no segundo turno.

A geografia do voto neste primeiro turno indica também uma força de Kast no centro do país, onde estão os principais centros urbanos e a capital, Santiago.

O sul, mais pobre, deu mais votos à coalizão de esquerda de Jara.

Quando o resultado já parecia definido, Boric felicitou Kast e Jara pela iminente passagem ao segundo turno. “Apenas pelo diálogo democrático o Chile pode resolver suas dívidas históricas e entrar no futuro com coesão social”, disse.

Votação tranquila

A jornada eleitoral foi tranquila. A votação foi encerrada às 18h. Segundo a Justiça eleitoral, resultados definitivos devem ser divulgados ao longo desta noite.

O principal tema da eleição, segundo analistas, foi a piora da violência urbana. A preocupação com o aumento da delinquência deu impulso a candidatos de direita, principalmente Kast, Kaiser e Matthei.

Quem deles passar para o segundo turno deve ser favorito contra Jara, que representa a coalizão de esquerda que elegeu Boric há quatro anos.

“Em um eventual segundo turno, todos os cenários indicam que perde de qualquer um dos candidatos de oposição”, afirma Rodrigo Arellano, analista da Universidad del Desarrollo.

Aumento da criminalidade

Os homicídios aumentaram 140% na última década, passando de uma taxa de 2,5 para 6 para cada 100 mil habitantes em 2024, segundo o governo.

No ano passado, o Ministério Público relatou 868 sequestros, um aumento de 76% em relação a 2021.

Para Gonzalo Müller, diretor do Centro de Políticas Públicas, a chegada de grupos armados ao Chile é diretamente responsável pela sensação de segurança.

“Embora esses números sejam baixos inclusive a nível mundial, o problema é a chegada do crime organizado e de crimes que eram desconhecidos até agora em nosso país, como os matadores de aluguel”, disse.

Duelo de visões

Neste domingo, Jara criticou seus rivais por fomentar o medo. “Isso não serve para governar um país. É preciso ter capacidade de realizar acordos, ter capacidade de diálogo”, disse.

Um de seus projetos contra o crime organizado é o levantamento do sigilo bancário para atacar suas finanças.

Kast, por sua vez, relaciona o aumento da criminalidade à imigração ilegal e promete deportações em massa e um “escudo fronteiriço” para deter a entrada de estrangeiros sem documentos.

Sua mensagem repercutiu em meio à comoção causada pelo Trem de Arágua, a temível gangue de origem venezuelana envolvida em sequestros, extorsões e outros crimes, que espalhou suas atividades pela América do Sul.

“É preciso unidade para enfrentar os problemas que hoje em dia nos afligem, que são problemas na área da segurança”, disse Kast após votar em Paine, nas imediações de Santiago. “A maioria das pessoas vai lhe dizer que tem medo.” / COM AFP

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