16 de novembro de 2025
A um mês do verão, orla tem obras inacabadas e infraestrutura precária
Autor: Daniel Menezes
Da TRIBUNA DO NORTE
A um mês do início do verão, a situação da orla de Natal é motivo de reclamações por parte de comerciantes e frequentadores, que se queixam da falta de estruturas como banheiros e chuveiros e criticam a demora para a conclusão de obras de requalificação. Durante a última semana, a TRIBUNA DO NORTE visitou todas as praias da capital e conversou com banhistas e trabalhadores para entender quais os principais problemas em cada local. Além da falta de infraestrutura, o fechamento de equipamentos como o Mercado da Redinha, na zona Norte de Natal, é alvo de queixa constante.
Andrea Cano, de 50 anos, veio de Embu-Guaçu (SP) para o Rio Grande do Norte pela primeira vez com a mãe. Depois de conhecer Pipa, no litoral Sul, as duas decidiram passar uns dias em Natal. Na manhã da quarta-feira (12), elas resolveram aproveitar um pouco a Praia de Miami, no bairro de Areia Preta. “Chegamos na segunda-feira (10), fomos ao litoral e estamos adorando. Mas aqui em Natal, estamos sentindo falta de estruturas básicas, como banheiros”, conta Andrea, que é guarda municipal.

A comerciante Severina Orideia reclama também da falta de segurança. Um posto da PM na área está fechado| Foto: Adriano Abreu
O vendedor Edson Pereira afirma que a falta de banheiros não é o único problema da Praia de Miami. Segundo ele, faltam também chuveiros. “Só tem um banheiro químico para toda a praia, que fica instalado vizinho ao Relógio do Sol e pertence a um quiosque. Chuveiro não existe. A Prefeitura colocou algumas lixeiras, mas são insuficientes, então, nós que somos comerciantes tivemos que trazer algumas. Os coqueiros estão feios, sem poda”, descreve.
Para tentar driblar a falta de chuveiros, um dos quiosques ao lado do Relógio do Sol disponibiliza um reservatório com água para que os banhistas possam tirar a água salgada após sair do mar. “O dono do quiosque conseguiu permissão da Prefeitura para isso, mas só tem esse ponto para toda a praia. Acho que dava para fazer uma estrutura para chuveiros na região. Muitas vezes, a gente não sabe muito o que fazer com a falta de estrutura para receber os turistas”, reclama José Higor, que trabalha na região como vendedor há três anos.
Questionada, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) citou que “a orla da zona Leste está passando por um amplo processo de requalificação executado pela Seinfra e que no projeto estão contempladas a melhoria das baterias dos banheiros e chuveiros públicos”, mas não mencionou se há algum planejamento específico para a instalação desses equipamentos na Praia de Miami. “Em relação às podas dos coqueiros, o setor de paisagismo vai inserir o serviço na programação para ser executado”, disse a pasta.
Em Ponta Negra a estrutura é melhor após uma reforma nos banheiros da orla. Lúcio Flávio, que trabalha em um quiosque da praia, conta que as instalações estão novas e que um funcionário da Prefeitura faz a limpeza dos equipamentos diariamente. “Antes a situação era muito precária”, fala. A engenheira Luciana Campos, de 45 anos, de Fortaleza (CE) gostou do que encontrou.
“Estou em Natal a trabalho, vim dar uma volta rápida na praia e observei que não é a mesma coisa de Fortaleza, mas tem o básico”, afirmou. De acordo com a Semsur, em Ponta Negra foi executada a reforma em cinco das seis baterias dos banheiros e que todas elas possuem chuveiros públicos.
Mercado da Redinha segue fechado
Na Redinha, as queixas se repetem em torno da falta de infraestrutura, além das críticas ao fechamento do Mercado. “Não temos quiosques, falta banheiro ou qualquer outro espaço até mesmo para o banhista trocar de roupa”, reclama o enfermeiro Luiz Otávio, de 40 anos, que foi aproveitar a folga na praia com a esposa, a assistente social Andrea Melo. “Sem contar que não há lixeira nem qualquer revitalização da orla”, complementa Andrea.
Raquel Barbosa, uma das permissionárias do Mercado, está insatisfeita, especialmente por conta do fechamento do equipamento. “A gente recebe um auxílio da Prefeitura que é insuficiente. Então, precisamos nos virar montando barracas na praia, que também não possui nenhuma estrutura”, desabafa. O Mercado da Redinha aguarda uma nova licitação para ser reaberto após reforma. A elaboração do certame está a cargo da Sepae, uma vez que o espaço deverá ser concedido à iniciativa privada.
A reportagem procurou a Secretaria para saber como está o andamento do processo, mas também não houve retorno. A TN buscou as secretarias de Turismo do RN e de Natal para saber se há alguma ação em parceria com as pastas competentes para melhorar a situação da orla da capital. A Setur RN disse apenas que a questão está a cargo do Município, enquanto a Setur Natal não respondeu até o fechamento desta edição.
Entidades ligadas ao turismo reconhecem a necessidade de melhorias. Para Edmar Gadelha, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do RN, a situação é um ponto de atenção que impacta a experiência final do turista. “Questões como a falta de banheiros e chuveiros precisam de rápida solução. Nosso grande desafio é garantir que o visitante tenha uma impressão positiva da cidade para que volte e indique o destino”, falou.
Thiago Machado, presidente da Abrasel RN, disse que as reclamações colhidas pela reportagem são antigas e enxergadas pela Abrasel como aspectos que carecem de maior atenção. “São pontos que se refletem no faturamento das casas do nosso setor, as quais dependem do turista na praia. Então, os estabelecimentos acabam sendo realmente prejudicados”, frisa.
Obra sem conclusão na Praia do Meio
Na Praia do Meio, a grande expectativa é pelo fim das obras de requalificação da orla, iniciadas em abril de 2024, mas ainda sem previsão de conclusão. O projeto inclui 27 quiosques, banheiros, Skate Park, Centro de Atendimento ao Turista e Guarda Municipal, além do Mirante da Ladeira do Sol. O investimento total é de R$ 39,8 milhões, sendo R$ 15 milhões de convênio com a União.
De acordo com a Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), responsável pela obra, ainda faltam R$ 3 milhões de repasses federais. Com isso, a pasta “está recorrendo a recursos próprios para dar celeridade” aos serviços e finalizar trechos do Skate Park e do Mirante. “O Skate Park tem previsão de conclusão para o início de dezembro. O Centro de Atendimento ao Turista e o Mirante estão prontos, aguardando trâmites formais para repasse de gestão à Secretaria de Turismo e à Guarda Municipal”, afirmou a pasta.
“O que não está concluído, no caso do Mirante, é a área adjacente, que teve um problema estrutural no muro de arrimo e precisou de reforço. Esta obra está em andamento e a previsão de término é para o final de dezembro. Para o ambiente ser ocupado, o processo de concessão está sendo trabalhado pela Secretaria de Concessões, Parcerias, Empreendedorismo e Inovações (Sepae)”, acrescentou a Seinfra. A pasta não informou como está o andamento das obras.
Enquanto isso, Alexandra Gouveia, que tem um quiosque na Praia do Meio junto com a mãe, reclama da queda no número de visitantes. “As obras parecem não ter fim”, diz. Ela reclama ainda do acúmulo de areia na área das barracas, que se espalha para o local dos quiosques e, em alguns trechos, para o calçadão. “Formam-se ‘dunas’, deixando tudo cheio de areia e impedindo que as pessoas desçam para a praia. Não tem como abrir as barracas, então, os turistas acabam sendo expulsos daqui”, relata.
Na Praia do Forte, no acesso à passarela que leva à Fortaleza dos Reis Magos, o problema, mais uma vez, se concentra na falta de banheiros – existe apenas um no local, que é cuidado pelos trabalhadores da região, mas está em condições precárias. A comerciante Severina Orideia reclama também da falta de segurança. Um posto da Polícia Militar instalado na área está fechado.
“Os policiais fazem rondas constantes, mas quando isso não acontece, aqui fica muito perigoso”, conta. A PM explicou que o posto é destinado apenas “a oferecer estrutura básica como banheiro e abastecimento de água aos policiais”. A corporação informou que o Forte conta com policiamento permanente no âmbito da Operação Orla Segura, no horário das 8h às 17h e que há dois policiais militares no interior da construção, fruto de um convênio entre a Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social e a Fundação José Augusto para garantir a vigilância no local.