13 de novembro de 2025
PF detalha atuação de investigados em esquema de desvios no INSS
Autor: Daniel Menezes
Documentos da Polícia Federal enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF) apresentam a atuação individual de investigados na Operação Sem Desconto, que apura desvios em descontos aplicados a aposentados e pensionistas por meio da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer). Segundo a PF, o grupo teria movimentado mais de R$ 700 milhões, com cerca de R$ 640 milhões destinados a empresas e operadores financeiros vinculados à organização. As informações são do G1.
As representações, que embasam pedidos de prisão e outras medidas cautelares autorizadas pelo STF, descrevem funções, mensagens, documentos apreendidos e movimentações financeiras atribuídas a ex-dirigentes públicos, integrantes do núcleo financeiro e responsáveis por operações internas na Conafer.

Operação Sem Desconto apura esquema de descontos indevidos em benefícios previdenciários.Pedro Ladeira/Folhapress
José Carlos Oliveira, ex-presidente do INSS e ex-ministro da Previdência
A PF aponta que José Carlos Oliveira teve papel estratégico para a manutenção do acordo que permitia os descontos da Conafer no sistema do INSS. Entre os elementos destacados estão:
- registros de propina paga de forma recorrente, identificados em planilhas apreendidas;
- mensagens de WhatsApp que, segundo a PF, indicariam agradecimentos após pagamentos;
- referência aos apelidos "Yasser" e "São Paulo" em documentos do esquema;
- liberação de R$ 15,3 milhões à Conafer em 2021, sem comprovação de filiações exigidas;
- continuidade de tratativas com dirigentes da entidade mesmo após assumir o Ministério da Previdência.
Para a PF, Oliveira atuou como um dos principais sustentadores institucionais do funcionamento do sistema de repasses.
Thaísa Hoffmann Jonasson
Apontada como integrante do núcleo de lavagem de dinheiro, Thaísa Hoffmann Jonasson é descrita como responsável por administrar parte do patrimônio e das empresas utilizadas nas movimentações financeiras. Segundo o relatório:
- ela teria participado do controle de imóveis, contratos e ativos relacionados ao grupo;
- operações simuladas e movimentações incompatíveis com sua renda foram identificadas;
- ela seguiu atuando após a primeira fase da operação, o que, para a PF, indicaria continuidade delitiva;
- documentos apontam atuação na ocultação e distribuição de recursos provenientes da Conafer.
Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho
Apontado como operador financeiro, Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho é descrito como responsável pela estruturação de transações voltadas à ocultação da origem e destino dos valores. De acordo com os relatórios:
- ele utilizava empresas de fachada ligadas ao núcleo financeiro;
- administrava contas usadas para repasse de valores desviados;
- participava de negociações envolvendo bens de alto valor, empregados para dificultar rastreamento;
- atuou no esvaziamento de contas e na alteração societária de empresas após o avanço das investigações.
Antônio Carlos Camilo Antunes
Também integrante do núcleo de lavagem, Antônio Carlos Camilo Antunes teria contribuído para a dispersão dos valores arrecadados pela Conafer. A PF lista:
- participação em operações imobiliárias e movimentações em dinheiro;
- envolvimento em contratos simulados usados para dar aparência de legalidade aos repasses;
- medidas para evitar bloqueios judiciais mesmo após a deflagração da primeira fase;
- atuação na manutenção das operações financeiras do grupo.
Dirigentes e operadores da Conafer
A PF descreve condutas atribuídas ao núcleo interno da entidade, incluindo indivíduos como Cícero Marcelino, Carlos Roberto e Tiago Abraão Ferreira Lopes, associados à operação e à manutenção do fluxo de valores.
Entre as condutas apontadas estão:
- produção de fichas de filiação falsas;
- inserção de listas fraudulentas no sistema do INSS - uma delas com 30 lotes que atingiram mais de 650 mil benefícios;
- envio de informações inconsistentes a órgãos de controle;
- encaminhamento de valores a operadores financeiros;
- tentativas de responder a questionamentos por meio de justificativas formais consideradas insuficientes pela PF.
Investigação aponta mesada de R$ 250 mil a Alessandro Stefanutto
Em documento complementar, a PF afirma que Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS, teria recebido propina mensal de R$ 250 mil da Conafer. Segundo a representação:
- os valores eram pagos via empresas ligadas a Cícero Marcelino, operador financeiro do grupo;
- os repasses eram registrados como honorários de consultoria ou assessoria;
- as empresas usadas incluíam uma pizzaria, uma imobiliária e um escritório de advocacia;
- a maior parte dos pagamentos ocorreu entre junho de 2023 e setembro de 2024.
A PF aponta que os repasses cresceram após Stefanutto assumir a presidência do órgão e que a arrecadação da Conafer atingiu R$ 688 milhões, valor proveniente dos descontos aplicados a beneficiários previdenciários.
Estrutura do funcionamento do esquema
A PF descreve a atuação do grupo como organizada em quatro núcleos:
- Direção: articulação institucional e manutenção dos acordos com o INSS;
- Financeiro: repasses, lavagem e uso de empresas de fachada;
- Operacional: inserção de dados indevidos e envio de listas fraudulentas;
- Intermediários: depósitos fracionados, distribuição em espécie e contratos simulados.
Segundo a polícia, a estrutura teria permitido a continuidade das fraudes mesmo após medidas adotadas na primeira fase.
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