Cláudio Castro depende de mais matanças para não ser cassado

Autor: Daniel Menezes

O título é forte, mas dotado de realismo. O governador do RJ Cláudio Castro catapultou sua avaliação e se projetou positivamente após a última operação realizada na cidade do Rio de Janeiro em que morreram 121 pessoas. Foi dado a ele o caminho das pedras para se manter no cargo.

Castro está prestes a ser cassado por ter montado, durante a campanha, um esquema de pagamento em espécie por ordem na boca do caixa de bancos a 27 mil funcionários fantasmas, cabos eleitorais de sua candidatura. Trata-se de batom na cueca. Ocorre que, com a operação, o Tribunal Superior Eleitoral atrasou a decisão por pedido de vista de um dos ministros do colegiado. Ela já estava para sair. O Tribunal se sentiu constrangido a cassar o governador diante de uma ação em que ele ganhou forte projeção nacional. Castro já entendeu o sistema de custos e incentivos. Tanto que já disse que fará mais 10 novas operações. 

Note, caro(a) leitor(a), que o anúncio retira o fator surpresa, também não aponta para um planejamento e fica parecendo que ele está divulgando agenda shows de fim de ano. Com novas matanças e apertando o botão da polarização, ele continuará em evidência e constrangerá o TSE a agir.

Veja. Ele não precisa resolver efetivamente o problema, aliás, como não o fez no complexo da penha e do alemão. Lá, ele só cumpriu 20 dos 100 mandados de prisão, não pegou o líder do CV, o Doca, não tomou o território e ainda morreram 4 policiais. E os 90 fuzis apreendidos equivalem a 9 dias de produção de uma das fábricas clandestinas do CV, conforme matéria do jornal metrópole. Não é uma questão de esquerda x direita, mas de atentar para o que funciona - ocupar o território e desmontar a capacidade bélica e financeira das facções.

Sim, há quem se delicie com a "morte de bandidos". Mas além de ilegal - quem gosta de "bandido bom, bandido morto", curiosamente não aplica para o "Mito" ou para o influencer Renato Cariani, acusado de envolvimento com o tráfico de drogas -, não tem efetividade alguma, pois há mão de obra ilimitada nas periferias e nos presídios do país. 

Mas em termos de manutenção do mandato e da valorização de sua candidatura, há validade e, pelo que já deixou claro, Cláudio Castro como um amoral que já demonstrou ser, não vai deixar passar a oportunidade. Mais gente vai morrer no RJ nos próximos para que tudo permaneça como se encontra.

[0] Comentários | Deixe seu comentário.