EXCLUSIVO - Secretaria municipal de saúde fabrica dados de melhoria no atendimento para tentar justificar terceirização da mão de obra na saúde de Natal

Autor: Daniel Menezes

Por Habyner Lima e Daniel Menezes

A situação não é boa? Não há problema. Basta quebrar o termômetro e usar a imaginação. Foi aplicando essa lógica que a secretaria municipal de saúde publicou dados sobre a melhoria no atendimento à população.

A prefeitura do Natal veiculou dados a partir do seguinte título - "Natal avança na redução da demanda reprimida e ampla atendimentos na rede municipal de saúde" (leia texto da prefeitura do Natal na íntegra aqui). Como o tema era de relevo e acreditando na boa fé da comunicação institucional da secretaria de saúde, O Potiguar postou o texto citado ontem (28) sem qualquer corte. Além de muitos números, é possível notar que o foco é apontar melhora na capacidade de atendimento após a troca da coopmed pelas terceirizadoras Justiz e Proseg.

Diz o texto - "a substituição, em setembro, da Cooperativa Médica (Coopmed) pelas empresas Justiz e Proseg também vem apresentando resultados positivos na rede de urgência e emergência. A mudança, que passou a vigorar em 1º de setembro, já reflete em um aumento significativo nos atendimentos das unidades municipais".

Cabe lembrar que a concorrência que assegura o contrato das duas empresas está judicializado. Há dois pareceres técnicos, um do Tribunal de Contas do Estado e outro do Ministério Público de Contas, dando conta de que a disputa concorrencial está atravessada por fortes indícios de direcionamento e ausência de economicidade para a prefeitura. O contrato saiu de cerca de 140 milhões com a coopmed para mais de 200 milhões de reais. Ao mostrar falsa melhora, a Prefeitura tenta fazer carga sobre o Tribunal de Justiça, que julgará o agravo de instrumento que mantêm as empresas, contando - me permita usar uma palavra ultrapassada - uma estória.

O movimento é chamado de falsa melhora porque fomos procurados por servidores da saúde de Natal que, na condição de anonimato, demonstraram que alguns dos números veiculados são falsos, colocando sob suspeição todo o comunicado feito pela Prefeitura.

Vamos às provas inquestionáveis em um dos aspectos contestados.

SUCESSO FABRICADO NA FILA DA COLONOSCOPIA

Diz a prefeitura do Natal

"Desde o início do ano, a SMS vem implementando uma série de ações para reduzir a demanda reprimida por atendimentos e exames. No início do período, o número de procedimentos em espera ultrapassava 163 mil. Com os mutirões e melhorias no fluxo de agendamentos, esse número caiu para cerca de 139 mil, uma redução de 15%. Um dos exemplos de sucesso é o mutirão de colonoscopia. A fila, que antes contava com mais de 6 mil pessoas, foi reduzida para 3.358 pacientes após as ações realizadas em março".

Ora, caro(a) leitor(a), a fila da colonoscopia nunca atingiu o número de 6 mil pacientes reprimidos, muito menos no período listado pelo release municipal. As provas apresentadas pelos servidores são irrefutáveis.

O Potiguar teve acesso ao controle de regulação do município da fila de colonoscopia. Em 11 de Março de 2025, existiam 2876 pessoas em condição de demanda reprimida e, naquele momento, o mutirão atendeu 120 pessoas.

Veja a seguir.

Além disso, de Maio de 2024 para Março de 2025 os números não chegaram nem perto de uma fila que se aproximasse dos 6000 pacientes apresentados pelo texto da prefeitura do Natal. O assunto inclusive foi objeto de debate no grupo de regulação da secretaria de saúde do município.

Seguem os prints das conversas a seguir:

Como é possível perceber, em nenhum momento, desde 2024, a fila reprimida de colonoscopia esteve no patamar de 6 mil pacientes. Não deveria ser assim que a prefeitura do Natal aponta melhoria no serviço. Além de desonesto, ataca o trabalho sério de centenas de servidores da secretaria municipal de saúde que não participaram e não aceitam tais subterfúgios típicos da minúscula e mais rasteira politicagem.

Como sempre, o blog está aberto para  esclarecimentos da Prefeitura do Natal.

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