7 de agosto de 2025
Água do São Francisco chegando ao RN é ‘história em movimento’, diz secretário
Autor: Daniel Menezes
DO AGORA RN
As águas do Rio São Francisco devem chegar ao Rio Grande do Norte entre os dias 18 e 22 de agosto, segundo a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh). A água percorrerá 412 km, saindo do Açude Caiçara (PB), até a Barragem de Oiticica, em Jucurutu. O secretário da Semarh, Paulo Varella, afirmou, em entrevista ao AGORA RN, que a chegada da água da transposição representa uma virada estratégica na gestão hídrica do Estado, que evolui de um modelo reativo para um sistema preventivo, garantindo segurança hídrica no Semiárido, com obras estruturantes como a Adutora do Seridó.
AGORA RN – As águas do Rio São Francisco chegam ao RN quando e por onde?

RN não precisará pagar pelas águas da transposição pelos próximos 3 anos. Foto: Sandro Menezes
Paulo Varella – Todo o planejamento e as movimentações para isso começaram na terça-feira, 5. As águas estão sendo liberadas do Açude Caiçara, na Paraíba, após percorreram 239 km. Elas passarão pelos açudes Engenheiro Ávidos e São Gonçalo, ambos na Paraíba, de onde seguirão para o Rio Grande do Norte. A chegada efetiva ao RN está prevista entre os dias 18 e 22 de agosto. Vamos acompanhar com nossa equipe para saber o dia exato em que a água chega ao Estado. Como já há água nos rios, o processo pode até acelerar, permitindo que possamos, inclusive, celebrar esse momento. Este não é um momento comum; estamos vivendo a história em movimento. É histórico!
AGORA RN – Qual o significado desta água da Transposição para o RN?
Paulo Varella – São décadas de luta, planejamento e construção. É uma obra fantástica. Imaginem uma gota d’água que saiu do Rio São Francisco e vai viajar cerca de 412 km até chegar ao RN. Essa ação foi cuidadosamente planejada. Desde o ano passado, enviamos nosso plano operacional ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional para que a água pudesse ser liberada agora. A gestão de recursos hídricos consiste em planejar e estar preparado para garantir água quando a situação for mais difícil, como é comum em nosso clima.
AGORA RN – Qual o efeito prático para o futuro?
Paulo Varella – No RN, estamos avançando em direção à nossa maioridade em segurança hídrica. Estamos, na verdade, dando largos passos ao migrar de uma gestão reativa para uma gestão preventiva e planejada. O objetivo é acabar com a ideia de enfrentar a seca como uma emergência e, em vez disso, compreendê-la como um fenômeno natural. Assim, poderemos conviver com nosso clima de modo a garantir água mesmo nas épocas de estiagem, que são normais. A partir de agora, essa é a primeira água que chega de forma sistemática e planejada, com a Transposição já em funcionamento efetivo. Essas são as primeiras águas dentro dessa nova perspectiva, que serão somadas, a partir de abril de 2026, pela outra ponta da Transposição, que chegará a Major Sales (RN).
AGORA RN – E qual a situação dessa outra frente de obra da Transposição?
Paulo Varella – O túnel de Major Sales, que tem 6,5 mil metros para ser perfurado montanha adentro, já conta com 5,5 mil metros concluídos. A obra está em andamento e teremos água no Rio Grande do Norte também no próximo ano. Estaremos preparados, mesmo que 2026 seja um ano difícil — possivelmente um dos mais difíceis da história recente —, já que a recarga dos nossos açudes foi praticamente nula neste ano.
AGORA RN – E o que está planejado para o uso dessa água?
Paulo Varella – Não basta trazer água do São Francisco para cá. Seria insano deixá-la parada dentro dos açudes. O grande desafio que temos preparado é responder: Água, por quê? Água para quê? Água para quem? Temos a conclusão da Barragem Oiticica e as obras da Adutora do Seridó, que demonstram o planejamento de um governo preocupado não só em trazer água, mas em garantir que ela chegue às casas das pessoas. Essa água será usada, em primeiro lugar, para abastecimento humano, obviamente. A partir do primeiro semestre de 2026, a parte da Adutora do Seridó que sai do açude Armando Ribeiro Gonçalves — que está ligada à Barragem Oiticica, por sua vez conectada à Transposição — estará em operação. No Semiárido, teremos 100% de garantia da fonte de água. Assim, saindo do Armando Ribeiro Gonçalves e passando por Jucurutu, Florânia, São Vicente, Cruzeta, Currais Novos e Acari, as próximas gerações só saberão o que é desabastecimento por meio dos livros de História.
AGORA RN – E há outras obras que se somam à Transposição?
Paulo Varella – Sim, o planejamento não para por aí. O projeto da parte que vai para a serra já está concluído, assim como o do Seridó Sul. A governadora Fátima Bezerra (PT) luta para incluir essas obras no PAC, garantindo 100% de segurança hídrica para toda a região do Seridó.
AGORA RN – Essas obras trazem alento ao Seridó. Mas e o Alto Oeste?
Paulo Varella – No próximo ano, teremos água em Major Sales, com a garantia da Transposição. A obra já está licitada, a ordem de serviço foi dada, e está em andamento um estudo para todas as cidades situadas nas serras da região, como Luís Gomes, São Miguel e outras próximas, para que todas tenham 100% de segurança hídrica. Isso vai romper um ciclo centenário de problemas recorrentes de falta d’água nessas localidades. Além disso, todas as cidades do Alto Oeste serão interligadas, como já fizemos na região do Seridó.
AGORA RN – Haverá fiscalização quanto ao uso desta água?
Paulo Varella – Estamos trabalhando para garantir que, mesmo em um período difícil, cada multa relacionada ao uso da água seja aplicada corretamente. Isso envolve monitoramento e fiscalização rigorosos, para assegurar que a água chegue efetivamente aos locais previstos. Isso vale tanto para as grandes estruturas, como a Transposição do São Francisco, quanto para as obras internas, como o Projeto Seridó. Precisamos responder claramente às perguntas: Água, por quê? para quê? para quem? E é importante destacar que a água não será usada apenas para abastecimento humano, mas também para o desenvolvimento regional.
AGORA RN – Quando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve aqui e afirmou ter trazido as águas do São Francisco ao RN, isso ocorreu efetivamente ou só deve ocorrer agora?
Paulo Varella – Naquele momento, a água chegou como um teste, durante alguns dias, em que foi bombeada. Mas aquilo não era sustentável, e depois não foi mais possível bombear. Quando o governo do presidente Lula (PT) começou, já com o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, constatou-se que havia muitos problemas na adutora central. Foi necessário recuperar as estações de bombeamento. Tanto que, no ano passado, ainda não foi possível trazer a água.
AGORA RN – Então, não estava pronto, de fato?
Paulo Varella – Não estava. A obra não estava pronta. Foi possível, por alguns dias, testar o funcionamento com os canais abertos. Mas, depois, foi preciso realizar um trabalho gigantesco de recuperação das estações de bombeamento. Só então a obra foi colocada em condição de funcionar de forma sistemática, sustentável e planejada, com base nos planos de operação. É por isso que afirmo que esta terça-feira 5 é um dia histórico. Estamos vendo a história em movimento. A partir de agora, teremos condições de planejar, de forma sistemática, a chegada dessa água ao RN. Não se trata de um rio que se transpõe de forma contínua. É como se fosse uma torneira, que será usada nos momentos em que for realmente necessária.
AGORA RN – Essa água tem custo?
Paulo Varella – Evidentemente, trazer uma gota d’água do São Francisco até aqui tem custos. Mas conseguimos uma negociação muito favorável para o RN, graças ao prestígio da governadora Fátima. Teremos um período de três anos sem a necessidade de pagamento por essa água. A população pode ficar tranquila nesse momento difícil: a água vai chegar sem custos financeiros para o Estado, por enquanto. Esses três anos servirão para que possamos nos planejar e nos preparar. Quando chegar o momento, então iniciaremos o que está previsto em termos de sustentabilidade financeira para a obra. Essa água chega em um momento ímpar, justamente quando mais precisamos dela.
AGORA RN – Qual o caminho das águas?
Paulo Varella – Essa obra é gigantesca. A água percorre quase 412 km até chegar ao RN. Na terça 5, foram abertas as comportas do Açude Caiçara (PB). A água seguiu por um canal até o Açude Engenheiro Ávidos e, nesta quarta-feira 6, foram abertas as comportas do Açude São Gonçalo. A partir daí, a água percorrerá mais de 70 km no território da Paraíba. Não há mais impedimentos para que ela chegue ao RN. A água vem do Rio São Francisco e passa por grandes estações, estruturas gigantescas. No percurso, atravessa túneis, açudes, pontes e aquedutos. Trata-se de uma das maiores obras de infraestrutura hídrica do país. A água começa a ser medida a partir da nossa divisa, junto a Jardim de Piranhas e segue para dentro da barragem Oiticica. Existe toda uma estrutura que vai operar daqui para frente, mantendo sempre esses canais
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