30 de junho de 2025

Lula assume Mercosul na Argentina e enfrenta desafio com Milei

Autor: Daniel Menezes

O presidente Lula desembarca nesta semana em Buenos Aires para participar da 66ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, marcando sua primeira visita oficial à Argentina desde que Javier Milei, de perfil ultraliberal, chegou ao poder. Lula vai receber de Milei a presidência rotativa do bloco econômico, que exercerá até o fim de dezembro. O encontro ocorre em clima tenso, já que os dois líderes, adversários políticos declarados, trocaram acusações públicas nos últimos meses e defendem visões opostas sobre a integração regional.

O reencontro de Lula com Milei será um teste de pragmatismo. Os dois trocaram cumprimentos protocolares na reunião do G20, no final do ano passado no Rio.

Desde a campanha eleitoral, Milei ataca o Mercosul, chamando-o de "trava ao livre comércio" e criticando Lula de forma direta. Por outro lado, o presidente brasileiro sempre apostou no bloco como peça central da política externa e pilar da integração sul-americana. Apesar das diferenças, os dois terão de cooperar para garantir a continuidade e a estabilidade do Mercosul.

O que Lula busca na viagem

Lula assume a presidência rotativa do Mercosul com uma pauta ambiciosa. Entre as principais prioridades estão:

  • Concluir o acordo Mercosul-União Europeia, estagnado há mais de 20 anos, mas que avançou recentemente.
  • Revisar a Tarifa Externa Comum, tornando-a mais flexível e ajustada ao cenário global.
  • Fortalecer a política industrial regional, especialmente nos setores automotivo e açucareiro, para garantir segurança jurídica e atrair investimentos.
  • Lançar o "Mercosul Verde", que quer valorizar a imagem ambiental do bloco e promover uma agricultura de baixo carbono.
  • Ampliar a cooperação em segurança pública, com ações conjuntas no combate a facções criminosas, sobretudo nas fronteiras.
  • Reforçar a participação social, com políticas para direitos humanos, igualdade de gênero e inclusão de povos indígenas e afrodescendentes.

Desafios à frente

Assumir a presidência do bloco não será tarefa simples para Lula. O maior desafio será justamente driblar as resistências de Milei, que vem tentando reduzir o peso do Mercosul e buscar acordos comerciais fora da aliança. Além disso, há diferenças internas entre os países-membros, como a definição de tarifas e cotas agrícolas e industriais.

Outro ponto sensível será consolidar a entrada plena da Bolívia, que precisa se adaptar às regras do bloco até 2028. Já o "Mercosul Verde" pode enfrentar resistências de setores conservadores e contrastar com a postura negacionista de Milei sobre a crise climática.

Por que o Mercosul interessa ao Brasil

A relevância do bloco para a economia brasileira é inegável. Entre janeiro e maio de 2025, o comércio dentro do Mercosul movimentou US$ 17,5 bilhões, gerando superávit de US$ 3 bilhões para o Brasil. Cerca de 95% das exportações brasileiras para a Argentina são produtos industrializados de maior valor agregado, fundamentais para a indústria e o emprego no país.

[0] Comentários | Deixe seu comentário.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.