15 de abril de 2024

Por que as universidades fizeram greve com Lula e não com Bolsonaro

Autor: Daniel Menezes

Por que servidores das universidades fizeram greve com Lula e não com Bolsonaro? Essa pergunta é constante. Apesar do elemento maldoso de fundo, a resposta é mais lógica do que parece. Sim, os anos de bolsonarismo foram muito duros nos ataques verbais diretos e cortes de orçamento contra o ensino federal. Fake news viraram moeda corrente de deslegitimação contra docentes - falsas acusações sobre doutrinação, plantação de maconha e até a junção de educação com pedofilia passaram a fazer parte da paisagem política. Tratava-se de uma gestão (sic) que escancarava o ódio à ciência. Não é bom esquecer que, enquanto Olavo de Carvalho era idolatrado, Paulo Freire virou símbolo de tudo a ser extirpado.

E por que não ocorreram paralisações? A questão é que os servidores ficaram com medo do desmantelamento do funcionalismo e da estratégia bolsonarista de processar administrativamente os servidores críticos do governo. E daí não quiseram abrir brecha para a campanha de ataque aos institutos e às universidades. Ainda assim, pesquisadores foram processados e sofreram perseguição em suas unidades de ensino. As instituições perderam o direito conquistado de eleger seus reitores, com a banalização da intervenção em institutos e universidades federais. Não foi um período fácil.

É por isto que, em certo sentido, representa um ponto para o governo Lula o fato dos professores universitários só entrarem em greve agora. Há uma insatisfação por crise de expectativa contra a atual administração e Lula, como um sindicalista que foi, terá de entrar em campo para equacionar sentimentos, interesses e perspectivas para o futuro. Mas, de alguma forma, os citados servidores enxergam nesse governo a capacidade de entender a greve como um direito, algo que não estava posto antes. Não é pouca coisa.

Cabe ainda entender que governos não se enfraquecem a partir de paralisações. Eles carecerão de pujança diante de um novo ciclo eleitoral se perderem a capacidade de responder aos anseios da sociedade. E, ora, Lula já negociou com banco central, auditores, funcionários do INSS, policiais e é chegada a hora de conversar com as universidades, na exata medida de ajustar o ponto de equilíbrio entre o interesse difuso geral e aqueles que são concentrados e típicos de quem quer elevação salarial. Jair Bolsonaro foi o primeiro a não se reeleger porque achou que os setores organizados da sociedade civil eram um detalhe. Lula só será prejudicado por uma greve se for pelo mesmo caminho. Por hora, não é o horizonte estabelecido.

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