7 de março de 2024

Imprensa não informa o que está em jogo no estabelecimento de regras sobre quem é usuário e quem é traficante no STF

Autor: Daniel Menezes

Se tivéssemos uma imprensa com reflexão, veríamos textos sobre farta empiria (Ipea etc) mostrando que não diferenciar quem é usuário e quem é traficante livra os brancos e prende os negros nas mesmas situações. O assunto está sendo travado no Supremo Tribunal Federal, que já formou maioria para estabelecer quem é quem. O julgamento foi paralisado pelo pedido de vistas de Dias Toffoli. Mas temos editorial contra cotas raciais na Folha de São Paulo, um consenso positivo na pesquisa social.

Você pode ter uma opinião sobre a realidade, mas não uma opinião que pinta uma realidade inexistente. O debate sobre cotas raciais, por exemplo, já conta com consenso porque elas funcionam e chegam num público que, se fosse apenas pelo critério de renda como defendeu a Folha em editorial, esse público - os negros - não seria atendido.

Por fim, não diferenciar usuário de traficante é o caminho natural numa sociedade como a nossa para encher as prisões de negros pobres por consumo de drogas, julgamento que brancos não enfrentam. Há números em abundância demonstrando que, ao deixar o julgamento para ser estabelecido pelo policial, ele considera o negro traficante e o branco usuário nas mesmas situações. Não importa o que você acha. É isso que ocorre, é essa a evidência.

O papel de informar apenas os votos dos ministros, como se cobrisse uma partida de futebol, visa não mexer com os contrários a mudança de entendimento. Uma situação com consequências tão importantes vira jogo de torcidas, sem qualquer informação que leve a um melhor enquadramento do problema.

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