29 de agosto de 2023

Em 11 anos, médico foi preso duas vezes e acusado por 15 pessoas, entre namoradas e funcionários, de agressão, racismo e homofobia

Autor: Cecília Marinho

“O corpo humano é a matéria-prima a ser lapidada para transformá-la na obra-prima chamada saúde.” A frase é do médico Bruno D´Angelo Cozzolino, de 40 anos, que se apresenta em seu site oficial como um especialista em 'lapidar corpos'. Com pós doutorado em medicina legal, estética e do esporte, dermatologia e nutrologia, ele atende os pacientes na sua clínica no Itaim Bibi, bairro nobre da Zona Sul de São Paulo.

"O espaço nasceu para te ajudar a lapidar seu corpo e fazer dele a representação perfeita de sua saúde e a maior marca pela qual as pessoas lembrarão de você" , informa trecho do texto publicado pelo Instituto D´Angelo.

Até o último fim de semana, o médico tinha aproximadamente 20 mil seguidores no Instagram. Mas não é por sua especialidade e currículo que Bruno passou a ser conhecido recentemente. O "Fantástico" revelou no domingo (27) que ele responde a vários crimes. Após isso, a rede social dele na internet foi desativada.

Nos últimos 11 anos, Bruno chegou a ser preso duas vezes pela polícia. Nesse período, foi acusado por ao menos 14 pessoas, entre então namoradas e ex-namoradas, funcionários de condomínios, um motorista e até um amigo à época de cometer violência doméstica, agressão (lesão corporal), ameaça, racismo (injúria racial), homofobia, gordofobia, misoginia, ofensas (calúnia, injúria e difamação), perseguição e dano (danificar patrimônio).

Atualmente ele responde aos crimes em liberdade. Não há queixas de pacientes contra o médico.

O g1 e o "Fantástico" levantaram boletins de ocorrência, processos e denúncias sobre todos os casos e mostram abaixo o que cada um deles informa. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), dois deles são investigados pela Polícia Civil. O Ministério Público (MP) acompanha as apurações.

O programa mostrou um vídeo no qual Bruno agride o síndico e empregados do prédio onde mora nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. Também há imagens dele ofendendo funcionários de um hotel no Rio de Janeiro. Algumas das vítimas ouvidas descreveram o médico como violento (veja acima).

As autoridades já convocaram Bruno para prestar esclarecimentos na delegacias que investigam as denúncias. A defesa dele foi procurada pelo g1 para comentar o assunto, mas não respondeu até a última atualização desta reportagem. Em um dos casos, seus advogados alegaram no processo que o cliente sofria de transtorno mental (saiba mais abaixo).

Ao todo, cinco mulheres (sendo três namoradas ou ex e duas funcionárias) e dez homens (a maioria funcionários de prédios onde ele reside, trabalha e ficou hospedado) foram vítimas de Bruno, segundo a apuração jornalística.

 

Bruno D´Angelo informa no site de sua clínica que ajuda pacientes a esculpirem corpos — Foto: Reprodução

Bruno D´Angelo informa no site de sua clínica que ajuda pacientes a esculpirem corpos — Foto: Reprodução

 

2023

 

 

  • 7 de agosto: Bruno é acusado de "injúria, lesão corporal e ameaça" contra o zelador do prédio onde morava nos Jardins. Segundo a vítima, o morador o xingou com palavrões e ameaçou que iria "acabar" com ele e pegá-lo "na rua" depois de ser repreendido pela portaria por estacionar o carro irregularmente, ocupando quatro vagas em vez de uma. Em seguida, agrediu o funcionário com um soco no ombro, contou. O caso foi registrado no 78º Distrito Policial (DP), Jardins. Bruno foi ao 4º DP, Consolação, e fez uma queixa de "ameaça" contra o zelador, dizendo que ele estava querendo atacá-lo com um facão de 30 centímetros. A gravação da câmera de segurança do prédio não mostra isso.
  • 7 de agosto: No mesmo dia, Bruno foi acusado de "ameaça, lesão corporal e injúria" depois de ter agredido o síndico do mesmo condomínio, Flavio Oliva, que tinha ido defender o zelador. A vítima disse que o médico o ameaçou dizendo "vou te arrebentar" e "vou te quebrar". O caso também foi levado ao 78º DP. Ele foi entrevistado pelo "Fantástico".
  • 8 de agosto: No dia seguinte, Bruno foi acusado de perseguir uma ex-namorada em São Paulo. Ela foi então à delegacia e registrou boletim de ocorrência contra o médico por "violência doméstica, perseguição, ameaça, lesão corporal". A empresária contou que se relacionou com ele por quatro meses e terminou o namoro por ser "agressivo". Mas que o homem não aceitava o fim do namoro e a perseguia. Em 16 de abril deste ano, ele a agrediu com soco, chutes e empurrões, segundo a vítima. Ela disse que caiu e rompeu o ligamento do joelho, sendo preciso operar. Em uma mensagem que enviou, Bruno escreveu: "Até os homens de boa aparência podem matar mulheres". Ela foi orientada pela 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) a pedir medidas protetivas na Justiça contra o agressor. A mulher foi ouvida pelo programa.
  • 10 de agosto: Bruno foi acusado de agredir um segurança que o condomínio nos Jardins contratou para proteger os funcionários do morador. Vídeo gravado por câmera do prédio mostra quando o médico avança sobre o empregado.

2022

 

 

  • 21 de outubro: Bruno foi acusado na polícia de "injúria, calúnia e ameaça" por três funcionários do condomínio onde ele tem sua clínica, na Zona Sul de São Paulo: duas mulheres e um homem. Segundo as vítimas, o médico mandou que eles chamassem a polícia por que um "pedinte" estava na calçada do prédio vizinho. Como os empregados se recusaram a fazer isso, Bruno os ofendeu com palavrões, chamando as moças de "gordas" e "hipopótamos", de acordo com a denúncia. Segundo o registro policial, o médico tentou a agredir o funcionário e disse: "Vou dar um tiro na sua cara, seu negro faxineiro, safado, nojento". O caso foi levado para o 14º DP, Pinheiros, e o 15º DP, Itaim Bibi.

 

 

 

2021

 

 

  • 20 de abril: Bruno é acusado numa delegacia de "injúria, calúnia e difamação" pelo recepcionista e por um segurança do hotel em que estava hospedado no Rio. O funcionário contou que o hóspede queria uma toalha, mas o item não estava na recepção. Segundo ele, o médico se exaltou e o ofendeu dizendo: "Vocês são uns suburbanos de merda!! Eu sou um médico bem-sucedido e vocês são uns recepcionistas de merda”. Ainda segundo a polícia, Bruno jogou o telefone no segurança e o xingou de "viadinho, suburbano de merda e filho da puta".
  • 25 de junho: Bruno foi preso e ficou dez dias detido por decisão da Justiça após descumprir medida protetiva contra uma ex-namorada que o acusou de "ameaça e violência doméstica". A vítima é uma psicóloga que namorou o médico por dois anos. E terminou o relacionamento com ele em 2019. Mas, desde então, o homem passou a persegui-la querendo reatar. "Eu vou te matar", "eu vou te atropelar" e "vou meter bala na sua cabeça" são algumas das ameaças que Bruno fez a ela por telefone, segundo a vítima. A defesa dele apresentou um relatório psiquiátrico que atestava que ele tem transtorno de humor bipolar, de ansiedade e transtorno obsessivo compulsivo grave. E que não deu continuidade ao tratamento. A prisão foi revogada com o compromisso de o médico passar por perícia para avaliar a condição psiquiátrica dele. Mas, segundo o Tribunal de Justiça (TJ), o Ministério Publico pediu arquivamento do caso sem sequer cobrar a perícia.

 

2019

 

 

  • 18 de setembro: Um empresário amigo de Bruno procurou a polícia para acusar o médico de "ameaça" depois que ele prometeu "quebrar tudo" dele e dar "um pau" nele. O motivo, segundo a vítima, seria o fato de Bruno ter batido o carro que dirigia, um Mercedes Benz C 180, em outro veículo estacionado numa rua do Itaim Bibi. O caso foi registrado no 15º DP.
  • 7 de setembro: Bruno foi acusado de agredir um motorista de outro veículo depois de se envolver num acidente de trânsito no Itaim Bibi.
  • 5 de dezembro: Bruno é acusado de "injúria racial" pelo vigilante do prédio onde moram os pais do médico, na Zona Sul. A vítima registrou a ocorrência no 27º DP, Campo Belo, depois de dizer que o filho dos condôminos discutiu com ele, o xingou e disse que "lugar de macaco é no zoológico". O motivo da discussão seria o fato de os funcionários terem sido orientados a chamar a Polícia Militar (PM) toda vez que Bruno fosse ao local já por causa de problemas anteriores.

 

 

 

2012

 

 

  • 10 de setembro: Bruno foi preso em flagrante pela PM depois de perseguir e agredir sua então namorada num posto de combustíveis na Avenida Rebouças, região central de São Paulo. Segundo a acusação, ele bateu o carro no veículo da vítima, que também é médica. Depois a puxou pelo braço e começou a chutar o automóvel dela. Ele ficou detido por um dia até ser solto depois de pagar R$ 16 mil de fiança. O caso foi registrado como "ameaça, dano e violência doméstica". A vítima pediu medidas protetivas à época.

Fonte: G1 

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