26 de dezembro de 2025
Bolsonaro já está no quarto e cirurgia não teve intercorrências, dizem médicos
Autor: Daniel Menezes
G1 - Terminou no início da tarde desta quinta-feira (25) a cirurgia para o tratamento de uma hérnia inguinal bilateral no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O procedimento foi pedido pela defesa e autorizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes na terça-feira (22). A operação durou cerca de 3h30.
Segundo a equipe médica, o procedimento transcorreu dentro do previsto e sem intercorrência. O ex-presidente já está no quarto.
"Procedimento cirúrgico realizado hoje transcorreu de acordo com o previsto, que foi uma hernia inguinal bilateral dos dois lados, então o presidente tinha uma hérnia do tipo mista, direta e indireta e foi corrigida", explicou o médico cirurgião Cláudio Birolini em entrevista a jornalistas. "Foi feita um reforço da parede abdominal e foi colocada uma tela de material plástico", completou.
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O ex-presidente Jair Bolsonaro em sua casa em Brasília nesta quinta-feira (11) — Foto: Sergio Lima/AFP
Ele acrescentou que os cuidados nos próximos dias serão voltados a analgesia, fisioterapia, dentre outros procedimentos e que o tempo de recuperação será de cinco a sete dias.
Já o procedimento para corrigir os soluços deve ser feito na próxima segunda-feira (29). De acordo com o cardiologia Brasil Caiado, que acompanha Bolsonaro, a decisão visou otimizar o tratamento.
"Nós optamos por questões de precaução otimizar o tratamento clínico, melhorar a dieta, potencializar toda a medicação e observar nesses próximos dias a necessidade ou não desse procedimento, provavelmente nós o faremos na segunda-feira, que é o tempo para ele responder a medicação", afirmou.
"Nós, inicialmente, tínhamos proposto um bloqueio do nervo, mas, estando mais próximo do presidente agora e observando que tenha uma relação direta talvez com o tubo digestivo, uma esofagite severa que ele tem, associada a gastrite e refluxo gastresofágico", explicou.
A companheira do ex-presidente, Michelle Bolsonaro, comemorou o "sucesso" da cirurgia pelas redes sociais.
"Cirurgia finalizada com sucesso. Sem intercorrências. Agora é aguardar o retorno da anestesia".
Após uma perícia médica foi constatada a necessidade de realizar uma cirurgia em Bolsonaro.
Boletim Médico
Um boletim médico divulgado pela equipe médica informa que Bolsonaro segue em cuidados pós-operatórios "incluindo analgesia, fisioterapia motora e prevenção de trombose venosa".
"No momento, encontra-se em otimização do tratamento clínico dos soluços, devendo ser reavaliada a necessidade do procedimento intervencionista nos próximos dias", diz o comunicado dos médicos.
O ex-presidente foi transferido da superintendência para internação no Hospital DF Star em Brasília na quarta (23).
O que é hérnia inguinal?
Quando isso ocorre dos dois lados, ela é chamada de bilateral. A hérnia inguinal bilateral pode causar inchaço, dor ou desconforto, especialmente ao fazer esforço, tossir ou ficar muito tempo em pé — embora às vezes seja assintomática.
Os peritos também analisaram o quadro de soluços de Bolsonaro, uma das principais queixas de saúde do ex-presidente, e avaliaram que o bloqueio do nervo frênico é uma medida tecnicamente adequada e deve ser feito o quanto antes.
🔎 Bloqueio do nervo frênico: é um procedimento que reduz temporariamente a atividade do nervo que controla o diafragma, ajudando a interromper soluços persistentes. Ele é feito com anestesia local, por meio da aplicação de um medicamento próximo ao nervo, geralmente guiada por ultrassom.
O procedimento é indicado apenas quando os soluços não respondem a tratamentos comuns e causam impacto clínico relevante.
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Infográfico mostra hérnia de Bolsonaro — Foto: Editoria de Arte/g1; Pablo Porciuncula/AFP
Contexto do ex-presidente
O médico Ricardo Katayose, cirurgião cardiovascular da BP, explicou ao g1 que, para entender a hérnia, é preciso imaginar como essa parede abdominal da virilha é construída.
🔎 O médico explica que o abdômen não é um espaço vazio: ele é formado por camadas sobre camadas — primeiro a pele, depois a gordura, em seguida a musculatura, e logo abaixo uma membrana rígida chamada aponeurose, que funciona como uma espécie de “armadura” para proteger as vísceras.
Atrás dessa camada de tecido existe o peritônio, uma película fina e lubrificada que reveste a parte interna do abdômen e permite que o intestino se mova livremente, sem atrito.
Isso é essencial porque o intestino está sempre em movimento para empurrar os alimentos durante a digestão, e até ações simples do dia a dia — como caminhar, respirar ou mudar de posição — ajudam esse funcionamento natural.
O problema começa quando essas camadas são rompidas, seja por cirurgias anteriores, seja por traumas. Toda vez que uma intervenção atravessa essas camadas, o corpo forma cicatrizes internas, chamadas aderências.
Elas podem fazer com que uma alça do intestino “grude” na outra ou se cole à parede abdominal. Essas aderências podem alterar o trânsito intestinal e, com o tempo, enfraquecer a aponeurose.
Como essa membrana é uma das principais estruturas que limitam o espaço onde o intestino deve ficar, qualquer perda de resistência ali facilita que ele avance para fora. No caso das hérnias, é exatamente isso que acontece.
O intestino procura qualquer brecha e ocupa aquele espaço. Às vezes, ele entra, mas não consegue sair — é o chamado encarceramento. É como se a alça passasse por um anel apertado: ela escapa, mas depois fica presa, incapaz de retornar à cavidade abdominal.
Na hérnia inguinal, essa projeção acontece no assoalho pélvico e pode até descer em direção ao escroto.
Quando o abdômen já foi muito manipulado, como no caso do ex-presidente, as aderências e as fibroses tornam a região mais rígida e irregular. Isso dificulta tanto a circulação normal do intestino quanto sua acomodação dentro da cavidade, o que pode contribuir para sintomas como soluços persistentes.
O sistema digestivo funciona como um tubo contínuo — da boca ao ânus — e qualquer prejuízo no trânsito intestinal pode gerar reflexos a distância, inclusive na região do diafragma, onde o soluço é desencadeado.
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