25 de dezembro de 2025

Bastidor não é comprovação: quando o jornalismo flerta com a inversão do ônus da prova

Autor: Daniel Menezes

A colunista Malu Gaspar, de O Globo, afirmou dispor de fontes que indicariam suposta pressão de Alexandre de Moraes sobre o presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo, no episódio envolvendo o Banco Master. O problema é que, até agora, nada disso avançou além do terreno escorregadio da conversa de bastidor. Fonte em off é ponto de partida, não de chegada. Jornalismo responsável exige mais do que “relatos reservados” quando se trata de imputações graves a autoridades da República.

Se uma investigação institucional ou uma acusação pública puderem se sustentar apenas em relato anônimo passado a uma jornalista, o sistema acusatório brasileiro entra em colapso. Não se trata de blindar ninguém, mas de preservar um princípio civilizatório básico: o ônus da prova cabe a quem acusa. No caso concreto, não há documento, registro, mensagem, despacho, testemunho identificado, absolutamente nada que dê materialidade à insinuação. Ambos os lados negaram qualquer atuação nesse sentido. Sem evidência mínima, a acusação sequer se formaliza — fica no limbo da suspeita difusa.

É preciso lembrar também o contexto político. Alexandre de Moraes contrariou interesses poderosos e tem contra si uma parcela expressiva do país, especialmente setores do “andar de cima”, desde que desbaratou o bolsonarismo de feição golpista. Nesse ambiente, bastidor é terreno fértil para vaidade, blefe e gente tentando parecer influente. Embarcar nisso sem provas é perigoso. Se o ônus da prova for deslocado para o acusado, não sobra muito do edifício jurídico sobre o qual se ergueu a nossa civilização. Malu Gaspar precisa trazer mais. Sem isso, não há como avançar.

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