22 de dezembro de 2025
MUDOU TUDO? O acordo exposto, a implosão em suspenso do MDB e a perspectiva de mudança de poder em 2027 como eixo central do jogo eleitoral de 2026 no RN
Autor: Daniel Menezes
A declaração pública do deputado federal João Maia segue operando como um marco de inflexão na política do Rio Grande do Norte. Ao expor um acordo que envolve o MDB, Walter Alves e a chapa liderada por Allyson Bezerra, o parlamentar retirou o véu de uma negociação que vinha sendo conduzida no silêncio estratégico dos bastidores. O fato de o acordo não ter sido desmentido consolidou a percepção de que algo estrutural mudou. Não se trata apenas de uma aliança pontual, mas da exposição de um rearranjo que redesenha o tabuleiro eleitoral de 2026 a partir de uma variável decisiva: o que acontecerá com o poder em 2027.
O primeiro efeito concreto dessa exposição é a implosão em suspenso da nominata do MDB. Suspenso porque ainda não se consumou, mas implosão porque seus fundamentos foram corroídos. Parte da atratividade do MDB residia na expectativa de acesso à máquina estadual, sob a hipótese de Walter Alves assumir o governo no início de 2026. Com essa possibilidade descartada, deputados que orbitavam o partido por pragmatismo eleitoral passam a reavaliar caminhos, mirando legendas com maior capacidade de oferta estrutural, como União Brasil e PP. A nominata deixa de ser um porto seguro e passa a ser um território instável, com impactos diretos também sobre a formação das chapas proporcionais e, por extensão, sobre o equilíbrio de forças na Assembleia Legislativa.
É nesse ambiente que se mostram precipitados os ataques de setores da militância petista a Walter Alves. O cenário segue aberto, e a possibilidade de algum tipo de alinhamento entre MDB e PT no Rio Grande do Norte não está descartada — seja por arranjos locais, seja por acomodações no plano nacional. O argumento de que Walter não assumiu o governo por receio de atraso da folha salarial funciona muito mais como retórica justificadora do que como explicação central. O elemento estruturante que move as decisões não é a folha, mas a sobrevivência política no pós-2026, quando a mudança de governo se apresenta como uma perspectiva real.
Nesse ponto, o dilema da governadora Fátima Bezerra ganha contornos ainda mais delicados. A eventual saída do cargo para disputar o Senado, deixando o governo para uma eleição indireta, pode gerar um alto custo de credibilidade junto ao eleitorado potiguar. Há uma diferença entre a verdade objetiva — a de que o atual governo apresenta resultados superiores aos de gestões anteriores — e a verdade socialmente construída. Se a percepção coletiva se cristalizar na ideia de que ninguém quer assumir o governo, isso pode produzir a leitura de um Executivo fragilizado, “em maus lençóis”. Essa percepção, ainda que não corresponda aos dados reais, tem força política suficiente para atingir tanto uma candidatura governista ao Executivo quanto a própria candidatura de Fátima ao Senado.
A complexidade aumenta porque essa mesma indefinição afeta o controle da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. O projeto que unia Walter Alves e Ezequiel Ferreira, com o objetivo de manter o comando da Casa no próximo ciclo, perde sustentação com a nova correlação de forças. A presidência da Assembleia deixa de ser um território previamente delimitado e passa a integrar o rol de disputas abertas, permitindo que Allyson Bezerra, João Maia e outros atores avancem na construção de um novo bloco de poder. Ao mesmo tempo, o PT, por meio de sua federação, mantém capacidade de atuar sobre as bases do MDB, atraindo quadros e desidratando nominatas, o que reforça a fluidez do cenário.
Em síntese, o acordo exposto por João Maia não encerrou o jogo — expôs sua lógica profunda. A implosão do MDB está em suspenso, não resolvida, e o tabuleiro de 2026 se organiza menos em torno de slogans eleitorais e mais em função da pergunta decisiva: quem atravessará a eleição com condições reais de permanecer relevante em 2027? É essa perspectiva de mudança de poder que orienta movimentos, explica cautelas e transforma qualquer gesto precipitado em risco elevado. No atual estágio, mais do que decisões definitivas, o que se vê é uma política em estado de espera — mas uma espera carregada de tensão estratégica.
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