19 de dezembro de 2025
Após adiamento, Ursula von der Leyen afirma que maioria dos países votará pela aprovação do acordo entre Mercosul e UE
Autor: Daniel Menezes
G1 - A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou, nesta sexta-feira (19), que há um número suficiente de Estados-membros da União Europeia apoiará o acordo comercial entre o bloco e o Mercosul para que ele seja aprovado.
Nesta quinta-feira (18), von der Leyen avisou às autoridades que o acordo com o Mercosul não será mais assinado neste sábado (20). A informação foi divulgada pelas agências de notícias AFP e Reuters.
Segundo fontes diplomáticas, a líder confirmou, em reunião, que a conclusão do acordo foi adiada para janeiro, o que levou agentes a recalibrar suas expectativas sobre o futuro do tratado.
A Comissão Europeia planejava selar o pacto nesta semana — criando a maior zona de livre comércio do mundo. O plano, no entanto, mudou após a Itália se alinhar à França para exigir um adiamento e buscar maior proteção ao seu setor agrícola.
- 🔍 De forma geral, o acordo comercial prevê a redução ou eliminação gradual de tarifas de importação e exportação, além de regras comuns para temas como comércio de bens industriais e agrícolas, investimentos e padrões regulatórios.
Os debates sobre o texto, negociado há 25 anos, se intensificaram nesta quinta-feira, com o início da reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas, que segue até esta sexta (19).
Veja abaixo os fatores que influenciaram a decisão.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/o/f/dwALvnRReLbZOeFytgXw/2025-04-03t075629z-452592558-rc28hdae1ttu-rtrmadp-3-usa-trump-tariffs-eu.jpg)
Ursula Von der Leyen em 20 de março de 2025 — Foto: Reuters/Yves Herman/File Photo
Oposição da França
O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que o país não apoiará o acordo comercial sem a inclusão de novas salvaguardas para os agricultores franceses. A França é hoje o principal foco de resistência ao tratado dentro do bloco europeu.
“Quero dizer aos nossos agricultores, que expressam a posição francesa desde o início, que consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado”, declarou Macron. A afirmação foi feita à imprensa antes de uma das reuniões de cúpula da União Europeia.
Ele antecipou que a França se oporá a qualquer “tentativa de forçar” a adoção do pacto comercial com o bloco sul-americano.
- 👉 Entre agricultores franceses, o acordo com o Mercosul é amplamente visto como uma ameaça, diante do receio de concorrência com produtos latino-americanos mais baratos e produzidos sob padrões ambientais distintos dos europeus.
Alemanha e Espanha apoiam acordo
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/Y/g/S3uvibQM2N5eqMQgjmVg/image001.png)
Merz disse que Alemanha um dos países 'mais bonitos do mundo' e nenhum jornalista queria ficar em Belém — Foto: AFP via Getty
Enquanto a França mantém resistência, o chanceler alemão, Friedrich Merz, e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, defenderam que o bloco avance no acordo firmado politicamente no ano passado com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
Alemanha, Espanha e países nórdicos avaliam que o tratado pode ajudar a compensar os efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos europeus e reduzir a dependência em relação à China, ao ampliar o acesso a minerais e novos mercados.
“Se a União Europeia quiser manter credibilidade na política comercial global, decisões precisam ser tomadas agora”, declarou o chanceler alemão.
Itália mantém incerteza
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2024/Q/b/bwWm7BTNarBPmEEjdZUQ/54146198730-3f0fbbc699-k.jpg)
Georgia Meloni, primeira-ministra da Itália, na chegada ao Rio para o G20 — Foto: Alex Ferro/G20
Já a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, afirmou que o país pode apoiar o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, desde que sejam atendidas as preocupações levantadas pelos agricultores italianos.
“O governo italiano está pronto para assinar o acordo assim que forem dadas as respostas necessárias aos agricultores, o que depende das decisões da Comissão Europeia e pode ser resolvido rapidamente”, declarou.
Brasil segue otimista
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/g/u/SFhUzJSAWrhAniqpqicQ/2025-12-18t152918z-1307177790-rc23jialo8if-rtrmadp-3-brazil-politics.jpg)
Lula conversa com jornalistas no Palácio do Planalto — Foto: Adriano Machado/Reuters
Pouco antes de a primeira-ministra da Itália se manifestar sobre o acordo, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), informou que havia conversado por telefone com Giorgia Meloni.
Segundo Lula, a premiê disse não ser contrária ao tratado, mas relatou enfrentar um “constrangimento político” em razão da pressão de agricultores italianos. Ainda de acordo com o presidente, Meloni afirmou estar confiante de que conseguirá convencer o setor a apoiar o acordo.
“Se a gente tiver paciência de uma semana, de dez dias, de no máximo um mês, a Itália estará junto com o acordo”, afirmou Lula.
Agricultores protestam em Bruxelas
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/W/w/v3aCwvRhusRrUeAQbYvw/afp-20251218-88j92kt-v2-highres-topshotbelgiumagriculturepoliticsdemo.jpg)
Manifestante atira batata em direção à polícia perto do prédio do Parlamento Europeu em Bruxelas; agricultores protestam protesto contra o acordo entre União Europeia e Mercosul — Foto: NICOLAS TUCAT / AFP
Enquanto os governos se reuniam no Conselho Europeu, milhares de agricultores de diferentes países foram a Bruxelas para protestar contra a política agrícola da União Europeia e, em especial, contra o acordo comercial com o Mercosul.
A mobilização reuniu centenas de tratores nas imediações das instituições europeias. Durante o protesto, eles queimaram pneus e lançaram batatas e outros objetos contra a polícia nas proximidades do Parlamento Europeu.
Houve também registro de danos ao prédio Station Europe, localizado na Praça de Luxemburgo, onde uma janela foi quebrada. A polícia interveio para dispersar o ato. Ao menos uma pessoa ficou ferida, segundo informações das autoridades locais.
Como funciona a aprovação e o que está em jogo
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/E/I/ifARU8SJWN6nLzafsy8w/2025-03-04t084031z-425448045-rc276das2swa-rtrmadp-3-ukraine-crisis-eu.jpg)
A chefe do Executivo da União Europeia, Ursula von der Leyen, anuncia plano de 800 bi de euros da UE contra eventual saída dos EUA da Ucrânia, em 4 de março de 2025. — Foto: Yves Herman/ Reuters
O processo é discutido no Conselho Europeu, instância responsável por autorizar formalmente a Comissão Europeia a ratificar o acordo.
Diferentemente do que ocorre no Legislativo, onde basta maioria simples, o Conselho exige maioria qualificada: o apoio de ao menos 15 dos 27 países do bloco, que representem 65% da população da União Europeia.
É justamente nessa etapa que se concentra o principal risco político de o acordo não avançar.
Embora o debate público esteja concentrado no agronegócio — principal foco da resistência europeia — o acordo entre Mercosul e União Europeia é mais amplo e vai além do comércio de produtos agrícolas.
O tratado também abrange temas como indústria, serviços, investimentos, propriedade intelectual e insumos produtivos, o que ajuda a explicar o apoio de diferentes setores econômicos do bloco europeu.
A expectativa era que, caso o acordo avançasse no Conselho, Ursula von der Leyen viajasse ao Brasil no fim desta semana para ratificá-lo — o que não deve mais ocorrer neste ano.
[0] Comentários | Deixe seu comentário.