16 de dezembro de 2025

Por que o governo Fátima é mal avaliado?

Autor: Daniel Menezes

A pergunta feita pela deputada estadual Isolda Dantas em tom de desafio à compreensão, em entrevista à 88,9 FM Universitária no último dia 15, é legítima e merece uma resposta que vá além do senso comum. Quando se observam os dados objetivos, comparando o atual governo com gestões anteriores, há avanços robustos e insofismáveis. Rosalba Ciarlini atrasou salários e recorreu ao Fundo Previdenciário; Robinson Faria chegou a atrasar quatro folhas consecutivas, enfrentou colapso no sistema penitenciário e viu a violência explodir. Já no governo Fátima Bezerra, houve reorganização fiscal, concursos públicos em diversas áreas, promoções, renovação de frotas, melhoria de equipamentos nas áreas de segurança, estabilidade no sistema prisional e indicadores de segurança pública historicamente positivos. Na saúde, a rede foi ampliada de forma contundente, especialmente em UTIs, muitas delas mantidas após a pandemia — ao contrário do que ocorreu, por exemplo, em Natal, onde estruturas foram desmontadas. Na infraestrutura, cerca de dois mil quilômetros de estradas estão sendo recuperados, algo sem precedentes nas últimas décadas.

Sim, a governadora Fátima criou grande anseio durante o pleito de 2022, alegando que o melhor viria em seu segundo mandato e isto, talvez, tenha gerado expectativas demais. Mas diante desse conjunto de resultados, não é possível sustentar, com base nos números frios, que o Estado não avançou. É honesto reconhecer a grande diferença entre o passado e o presente. Ainda assim, o governo segue mal avaliado. Uma das explicações centrais é o contexto de polarização extrema. Em um ambiente politicamente radicalizado, dificilmente qualquer gestão alcançará aprovação majoritária ampla. O cientista político Timothy Power foi certeiro em tal prognóstico em âmbito nacional e penso que também se sustenta por aqui. No Rio Grande do Norte, o bolsonarismo — embora minoritário no Estado como um todo — é forte em Natal e na Grande Natal, regiões que concentram opinião pública, formadores de discurso e repercussão midiática. Isso impõe, desde a largada, um teto para a avaliação do governo, que enfrenta oposição sistemática, renhida e ideológica, independentemente de resultados concretos.

Outro fator relevante é a relação conflituosa com setores das elites locais e com parte significativa da imprensa. O governo Fátima enfrenta uma cobertura majoritariamente crítica, muitas vezes marcada por distorções e notícias falsas. Até seu sotaque tipicamente nordestino vira alvo. Curiosamente, governos anteriores, mesmo em meio a crises graves — como salários atrasados, caos penitenciário e recordes de homicídios —, não sofreram, nem de longe, o mesmo grau de desgaste midiático. O silêncio era regra. Nesse aspecto, a esquerda joga em campo adversário. Vale lembrar que muitas das lideranças que hoje criticam o governo atual participaram ou foram protagonistas das gestões de Rosalba e Robinson Faria, amplamente mal avaliadas. Ainda assim, ocupam o centro do discurso oposicionista, com forte espaço público sem contraditório.

Há, por fim, uma responsabilidade do próprio governo nesse cenário. O enfrentamento político é tímido, quase inexistente. Diferente do PT de outros momentos — combativo, presente no debate público e disposto a disputar narrativas —, a gestão atual parece ter sido engolida pelo cotidiano administrativo. A política foi substituída pela tecnocracia, inclusive na aproximação e diálogo com potenciais aliados. Isso cobra um preço alto. O exemplo da saúde é ilustrativo: os problemas de financiamento hoje decorrem, em grande parte, da expansão da rede durante a pandemia e depois dela. Não se ouve mais falar em super lotação no Walfredo Gurgel e a SESAP fez o que parecia impossível - equacionar a epidemia de acidentes de moto com a barreira ortopédica instalada no grande Natal. Ou seja, trata-se de uma dificuldade gerada por um avanço num contexto em que a oposição procurou de todas as formas retirar receitas do executivo estadual, a exemplo do que foi o corte do ICMS na gestão Bolsonaro e depois pela Assembleia. Se o Estado tivesse mantido a precariedade histórica, com poucas UTIs e serviços concentrados, o custo seria muito menor — e o problema financeiro no setor, invisível. O paradoxo é claro: há saldo positivo, mas ele é obscurecido por um ambiente político hostil, uma comunicação midiática controlada por adversários e a ausência de enfrentamento. É nesse desencontro entre resultados e narrativa que se explica, em boa medida, a má avaliação do governo Fátima. Será possível reverter até o pleito do ano que vem? O pré-candidato ao governo Cadu Xavier é um dos maiores entusiastas e acredita piamente nisso. O tempo dirá se ele estava certo ou não.

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