13 de dezembro de 2025
Desde 2019, Enel acumula 8 multas do Procon que somam R$ 77 milhões; concessionária recorreu à Justiça e, até agora, não pagou nada
Autor: Daniel Menezes
Jornal Nacional - Setecentos mil moradores de São Paulo ainda não sabem quando a energia vai voltar.
Toda a comida do mercadinho do prédio descongelou e foi para o lixo, e os moradores estão sem água desde quinta-feira (11) porque a bomba não funciona.
“Nós não temos gerador. Eu tive que fornecer um pouco da água de reuso para pelo menos minimizar alguns desconfortos do dia a dia, como a questão do toalete. Água potável, gente não tem”, conta a síndica profissional Analícia Alyaseen.
Já são três dias de escuridão e prejuízos. Ligações desesperadas que chegam viram protocolos que se multiplicam. Durante chuva fraca à tarde, o número de clientes sem luz saltou de 630 mil para 730 mil em uma hora. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, do MDB, defendeu uma intervenção na Enel:
“A gente precisa convencer o governo federal que chegou no limite, aliás já extrapolamos o limite, para que tenha uma intervenção nessa empresa e que ela seja substituída por uma empresa que dê atendimento à população”.
O Ministério Público e a Defensoria acionaram a Enel para que o fornecimento de energia seja restabelecido imediatamente. Em caso de não cumprimento, o MP pede uma multa de R$ 200 mil por hora. Nos últimos três anos, os registros mostram um padrão que se repete:
- em novembro de 2023, 2,1 milhões clientes sem energia;
- em outubro de 2024, 2,4 milhões;
- agora, cerca de 2,2 milhões.
O Procon de São Paulo repetiu o que já fez em anos anteriores: notificou e pediu explicações. Desde 2019, o Procon já multou a Enel oito vezes em valores que somam mais de R$ 77 milhões. A concessionária recorreu à Justiça e até agora não pagou nada.
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Enel — Foto: Reprodução/TV Globo
Centro de operações da Enel, a multinacional italiana que em 2018 assumiu a distribuição de energia na capital e mais 23 municípios da Região Metropolitana. Lá, engenheiros e técnicos analisam a situação da rede, o trabalho das equipes na rua e autorizam ou não as religações que a população tanto espera.
Quarenta equipes do Rio e do Ceará estão chegando entre hoje e amanhã para reforçar as 1,6 mil equipes que se dividem em três turnos. A prefeitura reclama que é pouco. O investimento feito pela empresa no Brasil e na Itália é bem diferente: R$ 10,4 bilhões aqui contra R$ 96 bilhões na Europa. O tempo sem energia, que na Itália é em média de 48 minutos por cliente, aqui chega a 462, segundo relatório da Enel.
"Essa diferença não é comparável. Infelizmente, a Itália tem uma rede muito mais antiga, com muito mais investimento. Tem uma parte da rede que também tem enterramento e muito mais tecnologia. Essa parte toda de resiliência de investimento na rede que a gente está falando aqui agora, a Itália já passou por esse processo há muito tempo”, diz Guilherme Lencastre, presidente da Enel São Paulo.
A promessa é de restabelecer a energia até o final de semana para quem sofre há mais tempo.
Guilherme Lencastre: Os clientes que estão há muito tempo sem energia passam a ser a prioridade máxima. O cliente que está há mais de 24 horas, a gente vai dar prioridade máxima.
Repórter: E essa prioridade significa a religação em quanto tempo, em média?
Guilherme Lencastre: Depende da complexidade da situação.
Ministério das Minas e Energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica não se manifestaram sobre a declaração do prefeito de São Paulo de intervenção na Enel.
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