11 de dezembro de 2025

EUA ficarão com navio petroleiro perto da Venezuela? Apreensão foi ato de guerra? Veja o que se sabe sobre o episódio

Autor: Daniel Menezes

G1 - Em um episódio inédito nas operações militares que o governo de Donald Trump faz perto da costa da Venezuela, as Forças Armadas dos EUA interceptaram na quarta-feira (10) um navio petroleiro venezuelano no mar do Caribe, entraram na embarcação e apreenderam.

Foi a primeira vez que o governo Trump fez o uso da força para assumir um navio petroleiro venezuelano — até agora, as investidas da campanha militar dos EUA no Caribe haviam se limitado a ataques a pequenos barcos que Washington alega ser de traficantes de drogas a caminho do território norte-americano.

Desta vez, a apreensão, incomum para as ações de Trump, mirou o principal ativo da econonia venezuelana — o petróleo — e, por isso, levantou questionamentos sobre se se trata de um ato de guerra. Também há dúvidas se os EUA ficarão com a embarcação.

Veja, abaixo, o que se sabe até agora da ofensiva:

 

Por que os EUA apreenderam o navio?

 

Até agora, os Estados Unidos deram poucas justificativas para a apreensão do petroleiro venezuelano. O presidente dos EUA, Donald Trump, ao confirmar a operação na noite de quarta durante um evento na Casa Branca, disse apenas que a ação "foi por um bom motivo".

Já a procuradora-geral dos EUA alegou que havia um mandado de apreensão para o navio porque, segundo ela, a embarcação transportava petróleo para o Irã mesmo estando sob sanções — de fato, a o navio capturado foi sancionado pelo governo dos Estados Unidos em 2022, o que, na prática, quer dizer que ele não poderia fazer operações comerciais.

 

"Há vários anos, o navio-tanque está sob sanções dos Estados Unidos devido ao seu envolvimento em uma rede ilícita de transporte de petróleo que apoia organizações terroristas estrangeiras", disse a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi.

 

 

O governo venezuelano não se pronunciou sobre a acusação, mas falou de intervencionismo de Trump.

 

A quem pertence o petroleiro?

 

Petroleiro venezuelano que, segundo empresa de satélite, é o navio apreendido pelas Forças Armadas dos EUA, em 10 de dezembro de 2025. — Foto: Planet Labs PBC via Reuters

Petroleiro venezuelano que, segundo empresa de satélite, é o navio apreendido pelas Forças Armadas dos EUA, em 10 de dezembro de 2025. — Foto: Planet Labs PBC via Reuters

Oficialmente, os EUA não informaram o nome do navio, e, nas imagens da operação que divulgaram (veja no vídeo acima), há borrões sobre a inscrição da embarcação.

Mas a imprensa norte-americana afirma que se trata do VLCC Skipper, um navio petroleiro que comercializa o transporte de barris de petróleo saídos da Venezuela. Segundo a companhia de monitoramento de transportadores marítimos de petróleo Tanker Trakers, pertence ao grupo de navegação Triton, com sede das Ilhas Marshall, pequeno país na Oceania.

 

A Triton foi de fato sancionada pelos EUA em 2022 acusada de operar uma suposta rede de contrabando ilegal de petróleo comandada pelo governo da Rússia.

A consultora de risco marítimo Vanguard afirmou ainda que o Skipper transportava cerca de 1,1 milhão de barris de petróleo no momento da interceptação das Forças Armadas dos EUA. E que o navio operava com uma bandeira falsa, da Guiana — pelas normas do direito internacional, uma embarcação deve portar a bandeira do país onde está registrado.

 

O Skipper é suspeito também, segundo investigações do governo norte-americano, de ser um dos chamados "navio-fantasmas", nome dado a embarcações que navegam com bandeiras falsas para conseguir driblar restrições com sanções internacionais.

 

 

Foi um ato de guerra?

 

Ao comentar a operação, Donald Trump não mencionou um ato de guerra. Para isso, seria necessário que:

 

  • A embarcação pertencesse ao Estado venezuelano;
  • A ação ocorresse dentro do espaço marítimo da Venezuela;
  • Os EUA declarassem guerra.

 

 

Os EUA ficarão com o navio? E com os barris de petróleo?

 

Quando questionado sobre o que aconteceria com o petróleo a bordo do petroleiro, Trump disse: "Bem, acho que ficaremos com ele".

Mas não deu mais detalhes sobre o que pretendia fazer com a embarcação. Até a manhã desta quinta, o navio seguia sob controle dos militares norte-americanos e atracado no mar do Caribe, segundo sites de monitoramento do transporte marítimo.

 

Também não havia informações sobre qual seria o destino dos barris de petróleo, o principal motor da economia venezuelana.

A Venezuela, um dos membros fundadores da Opep, exportou mais de 900 mil barris de petróleo por dia no mês passado, a terceira maior média mensal do ano até o momento, devido ao aumento das importações de nafta (um dos subprodutos do petróleo) pela estatal PDVSA para diluir sua produção de petróleo cru.

Mesmo com a crescente pressão Maduro, Washington não havia interferido no fluxo de petróleo do país até a apreensão de quarta-feira.

 

Como foi a ação?

 

Momento em que militares dos EUA abordam navio petroleiro da Venezuela, em 10 de dezembro de 2025. — Foto: Procuradoria-geral dos EUA via AP

Momento em que militares dos EUA abordam navio petroleiro da Venezuela, em 10 de dezembro de 2025. — Foto: Procuradoria-geral dos EUA via AP

A operação foi liderada pela Guarda Costeira dos Estados Unidos e apoiada pela Marinha norte-americana.

 

Os membros da Guarda Costeira que lideraram a apreensão foram levados até o petroleiro por helicóptero a partir do porta-aviões USS Gerald R. Ford — o Gerald R. Ford, o maior porta-aviões do mundo, está no mar do Caribe desde sua chegada à região em novembro, em uma grande demonstração de força por parte do governo Trump.

Em seguida, os militares desceram de rapel de um dos helicópteros, que pairava a poucos metros do convés da embarcação. O vídeo que mostra a ação, divulgado pelo governo dos EUA, registra o momento em que membros da Guarda Costeira se movimentam pela estrutura do navio, fortemente armados.

Não houve registro de confrontos.

 

O que a Venezuela pretende fazer?

 

O governo de Nicolas Maduro afirmou que "defenderá sua soberania, seus recursos naturais e sua dignidade nacional com absoluta determinação" e que denunciará a apreensão do petroleiro perante os organismos internacionais.

 

"Da Venezuela, pedimos e exigimos o fim do intervencionismo ilegal e brutal dos Estados Unidos, basta de políticas de mudança de regime, golpes de Estado e invasões no mundo. 'No more' (não mais) Vietnã. 'No more' Somália. 'No more' Iraque. 'No more' Afeganistão. 'No more' Líbia. Basta de guerras eternas e imperiais", discursou, enumerando intervenções de Washington em outros países.

 

 

➡️ O episódio ocorre em meio a um enorme reforço militar dos EUA na região do Caribe, incluindo um porta-aviões, caças e dezenas de milhares de soldados. Washington afirma que a manobra faz parte de um combate ao tráfico de drogas, mas o governo da Venezuela afirma que o objetivo final seria a derrubada de Maduro e do regime chavista.

Imagem mostra o presidente dos EUA, Donald Trump (E), em Washington, DC, em 9 de julho de 2025, e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro (D), em Caracas, em 31 de julho de 2024. — Foto: AFP/Jim Watson

Imagem mostra o presidente dos EUA, Donald Trump (E), em Washington, DC, em 9 de julho de 2025, e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro (D), em Caracas, em 31 de julho de 2024. — Foto: AFP/Jim Watson

A notícia fez o preço do petróleo subir, após iniciar o dia em baixa.

Trump levantou repetidamente a possibilidade de uma intervenção militar dos EUA na Venezuela.

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