4 de novembro de 2025

Escândalo abala o Exército de Israel após vazamento de vídeo com estupros de soldados praticados contra palestinas

Autor: Daniel Menezes

Correio Braziliense - Yifat Tomer-Yerushalmi tornou-se o centro de um escândalo que expôs violações de direitos humanos contra prisioneiros palestinos da Sde Teiman, uma penitenciária militar localizada no Deserto do Neguev, perto da Faixa de Gaza. No domingo (2/11), a procuradora-geral do Exército de Israel desapareceu por algumas horas, depois de escrever uma carta na qual renunciava ao cargo e confessava ter ordenado o vazamento de um vídeo em que cinco soldados aparecem abusando sexualmente de um detento. Parte da imprensa israelense interpretou a mensagem como uma nota suicida. No vídeo, gravado em julho de 2024, os militares abordam o preso, que estava deitado, e o levam até uma cerca. Depois, utilizam escudos para ocultar a sessão de tortura. O palestino é espancado e tem um objeto afiado introduzido no ânus, que provoca laceração na parede retal.

Nesta segunda-feira (3/11), Tomer-Yerushalmi foi presa, sob as suspeitas de fraude, quebra de confiança, abuso de cargo, obstrução da Justiça e divulgação de informações oficiais por um funcionário público. A Justiça ordenou que ela fique sob prisão preventiva por pelo menos três dias. No celular da ex-procuradora, a polícia teria encontrado uma troca de mensagens com os soldados que teriam cometido o abuso — o que indicaria uma tentativa de atrapalhar a investigação. 

 

Imagem do vídeo mostra os militares usando escudos para ocultar a visão, ao abordarem preso

Imagem do vídeo mostra os militares usando escudos para ocultar a visão, ao abordarem preso(foto: Reprodução)

 

Em reunião de gabinete no domingo, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que o incidente em Sde Teiman "causou imenso dano à imagem do Estado de Israel e das Forças de Defesa de Israel (IDF)". "Esse é, talvez, o mais grave ataque de relações-públicas que o Estado de Israel experimentou desde sua fundação. Isso demanda uma investigação independente e imparcial", cobrou. Em mensagem no Telegram, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, informou que ordenou ao Serviço Penitenciário para que "atue com extrema vigilância para garantir a segurança da detenta".

Depois de a imprensa israelense publicar uma série de reportagens sobre o caso, em fevereiro de 2025 as IDF indiciaram os cinco soldados por supostos maus-tratos. O vídeo foi exibido pela primeira vez pela emissora de televisão Canal 12. Registradas por uma câmera de segurança da penitenciária Sde Teiman, as imagens sugerem que  os soldados praticaram atos ilícitos contra um prisioneiro palestino. 

 

 

A emissora Channel 12 exibiu imagens gravadas por uma câmera de segurança que sugerem, sem mostrar explicitamente, que soldados israelenses cometeram atos ilícitos contra um palestino detido, mas nas imagens os militares seguram seus escudos, o que não permite observar exatamente o que aconteceu. A Procuradoria Militar, representada por Tomer-Yerushalmi, acusou formalmente os cinco reservistas de agressões. O documento da acusação atesta que os soldados "atuaram com grande violência contra o detento" e provocaram "lesões graves", incluindo costelas quebradas, um pulmão perfurado e uma fissura anal. O texto também cita diversas evidências coletadas pelos investigadores, como laudos médicos e imagens das câmeras de segurança. 

Segundo a AFP, a penitenciária de Sde Teiman foi instalada em uma base militar para abrigar palestinos detidos em operações na Faixa de Gaza, no marco da guerra travada por Israel contra o movimento islâmico Hamas. 

 

Yifat Tomer-Yerushalmi divulgou o vídeo à imprensa e permaneceu desaparecida durante várias horas, no domingo

Yifat Tomer-Yerushalmi divulgou o vídeo à imprensa e permaneceu desaparecida durante várias horas, no domingo(foto: IDF/Wikipedia)

 

Professor de relações internacionais da Universidade de Bar-Ilan, em Ramat Gan (perto de Tel Aviv), Eytan Gilboa explicou ao Correio que o vídeo é "apenas uma das evidências que demonstram o suposto abuso sofrido por um terrorista do Hamas". "Cinco soldados estão sendo julgados. Ao contrário da organização terrorista Hamas, as acusações e o julgamento mostram que Israel leva os crimes de guerra a sério e lida com eles de forma eficaz. O terrorista do Hamas foi expulso para Gaza", disse. 

 

 

Para Gilboa, a ex-procuradora-geral do Exército Tomer-Yerushalmi não revelou nenhum segredo nacional e, portanto, não deverá responder pelo crime de traição. "O vazamento do vídeo é um problema que cabe a ela. Isso porque cometeu um erro crucial, ao encobrir a divulgação do material enquanto alegava estar investigando os responsáveis e mentir para a Suprema Corte", comentou. 

PERSONAGEM DA NOTÍCIA

Da faculdade à história

Yifat Tomer-Yerushalmi, 51 anos, entrou para a história de Israel, em 2021, como a primeira mulher a ascender ao posto de procuradora-geral do Exército. Casada e com três filhos, ela nasceu em Netanya e formou-se em direito pela Universidade Hebraica. Em 1996, aderiu à Divisão Jurídica das Forças de Defesa de Israel (IDF). Entre 2007 e 2015, atuou como juíza das IDF e conseguiu várias promoções na carreira, além da patente de coronel. Segundo o jornal Jerusalem Post, em julho de 2019,  Tomer-Yerushalmi foi promovida pelo então chefe das IDF, Aviv Kohavi, para gerenciar temas de gênero nas Forças Armadas israelenses. 

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