27 de setembro de 2025
Entre anistia e blindagem, prioridades do governo travam no Congresso
Autor: Daniel Menezes
Enquanto o Congresso Nacional se envolve em polêmicas como a tentativa de aprovar uma anistia aos envolvidos no 8 de janeiro e a chamada PEC da Blindagem, que ampliava a proteção a parlamentares com problemas na Justiça, a agenda considerada prioritária pelo governo Lula avança lentamente.
Dos 48 projetos listados em fevereiro pelo então ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, apenas 11 concluíram toda a tramitação: oito transformaram-se em lei, um virou emenda constitucional e dois aguardam sanção presidencial. O saldo revela o contraste entre o ritmo atribulado de propostas de interesse corporativo ou defensivo do próprio Congresso e a morosidade de temas que poderiam ter impacto direto na vida da população.

Metade das propostas consideradas prioritárias pelo governo está concentrada na Câmara atualmente.Arte | Congresso em Foco
Avanços tímidos e travas no caminho
Entre os projetos parados estão a nova Lei de Falências, a reforma da aposentadoria dos militares e a regulamentação das plataformas digitais, o chamado PL das Fake News. Nenhum deles registrou avanço neste ano legislativo.
Outras propostas tiveram andamento em apenas uma Casa. É o caso da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, aguardada pela sociedade e pronta para votação desde o final do primeiro semestre. A expectativa é que ela seja pautada na Câmara na próxima semana, enquanto o Senado também se prepara para deliberar um texto semelhante, de autoria de Renan Calheiros (MDB-AL). Também deve ser votada na próxima semana a proposta que cria o comitê gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), mecanismo central da reforma tributária.
"Parlamento paralisado"
Para o deputado Alencar Santana (PT-SP), primeiro vice-líder do governo na Câmara, a prioridade de alguns parlamentares em projetos como a anistia e a blindagem desvia as atenções do que realmente interessa à sociedade. "Sem dúvida atrapalha. Paralisa o Parlamento no debate essencial para discutir coisas laterais, que interessam mais a alguns do que ao todo", disse o deputado ao Congresso em Foco.
Ele citou como exemplos dessa morosidade o atraso na votação do IR e a demora para instalar a comissão especial da PEC da Segurança. Santana também avalia que as manifestações populares que ajudaram a enterrar a PEC da Blindagem, nesta semana, podem funcionar como um recado para acelerar a agenda social e econômica. "Se ficarmos presos nessas pautas, a Câmara vai afundar", completou.
O que o Planalto ainda espera aprovar em 2025
Além da isenção do IR, o governo conta com a aprovação de duas medidas provisórias estratégicas:
- MP 1.303/2025 - muda a tributação de aplicações financeiras e ativos virtuais, cria alíquota única de IR de 17,5% e extingue gradualmente o IOF até 2028.
- MP 1.313/2025 - institui o programa Gás do Povo, que busca ampliar o acesso ao gás de cozinha para famílias de baixa renda.
Essas duas medidas não constavam na lista inicial de prioridades do governo. A primeira MP se tornou necessária após o Congreso se insurgir contra o aumento do IOF, derrubando decretos presidenciais que elevavam a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras.
Outro ponto considerado central pelo governo é a PEC da Segurança, que propõe constitucionalizar o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), ampliar as competências da União e reforçar a integração entre polícias e guardas municipais. O Planalto espera que o texto seja aprovado ao menos na Câmara este ano.
O balanço por eixo temático
1. Agenda econômica para um Brasil mais justo
Dos seis projetos, apenas dois avançaram definitivamente: a emenda constitucional que reabriu o prazo para parcelamento de dívidas previdenciárias dos municípios e o novo Plano Safra/Pronaf, já aprovado e aguardando sanção.
A reforma da previdência militar (PL 4.920/2024), que altera regras de pensão e idade mínima para reserva, não saiu do papel.
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