27 de setembro de 2025

“Eduardismo”: termo é usado ‘oficialmente’; entenda a facção ainda mais extremista

Autor: Daniel Menezes

Revista Fórum - Algo que parecia absolutamente impossível e impensável até pouquíssimo tempo atrás já se concretiza no cenário político brasileiro: o bolsonarismo está fraturado. E não se trata de duelos e brigas por poder neste movimento de extrema direita que até a Presidência da República já conquistou, ou de puxadas de tapete de bastidores para drenar o espólio eleitoral de um líder golpista popular que está condenado e em breve irá para a cadeia. Trata-se de uma cisão mesmo, literal e ‘oficial’.

Nos últimos três dias, quem acompanha o universo digital dos extremistas ultrarreacionários brasileiros percebeu que a expressão “eduardismo” está em franca expansão e sendo usada de forma corriqueira, inclusive acompanhada de logomarca e tudo mais, que curiosamente utiliza as cores da bandeira dos EUA e não da do Brasil. De fato, a estratégia suicida de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de ir para a terra do Tio Sam e de lá atacar o próprio país, com a suposta justificativa de livrar seu pai da prisão depois da tentativa de golpe de Estado liderada por ele, agora traz um efeito que, até o momento, não se sabe se é colateral ou meticulosamente calculado.

Antes de explicar esse movimento que parece ganhar força expressiva dentro da extrema direita, é necessário que alguns pontos sejam lembrados e recuperados.

É algo inegável que Jair Bolsonaro (PL) caiu na real e sabe que seu futuro será sombrio. No pior dos cenários, ficará no mínimo sete anos numa prisão. Já no melhor, passará pelo menos quatro ou cinco anos trancado dentro de casa e inelegível “para sempre”, uma vez que tem 70 anos e sua elegibilidade só seria recuperada em 2062. Diante disso, o líder máximo do reacionarismo nacional até “topou” uma iniciativa legislativa para diminuir de alguma forma sua pena, insistindo para que seja mantido em prisão domiciliar desde o primeiro momento, pois morre de medo só de pensar no Complexo Penitenciário da Papuda. Ele também “aceitou” que Tarcísio de Freitas seria o nome ideal para a briga eleitoral pelo Palácio do Planalto no próximo ano.

Com essa paisagem, ficou claro para todos os envolvidos que as ações de Eduardo contra o próprio país apenas pioraram o quadro do pai, o que motivo Jair a pedir diretamente ao filho que parasse com suas ações de lesa-pátria. Eduardo, por sua vez, negou-se e prometeu seguir com a pressão persuasória para que o governo de Donald Trump imponha novas tarifas comerciais e sanções econômicas a autoridades brasileiras. Ele não quer saber nem mesmo da vontade do pai, seu “líder máximo”. Seu fiel escudeiro, Paulo Figueiredo, uma figura dos esgotos do radicalismo e que é neto do último ditador do Brasil, chegou inclusive a soltar uma frase que revela bastante sobre a intenção da dupla: “Bolsonaro seria incapaz de decidir” qualquer coisa no momento. Pois é, o filho está tratorando o pai e isso tem uma motivação clara.

Pesquisas mostram que o bolsonarismo atinge algo entre 37% e 40% dos eleitores, mas há aí um gradiente de radicalismo. Aqueles doidos, de verdade, dignos de usarem chapéu de alumínio e orarem para pneu, que se fantasiam de verde e amarelo e empunham bandeira de Israel, seriam algo como de 13% a 15%, ou seja, pouco mais de um terço dos devotos abilolados que veneram o golpista que ganhou a vida espalhando o ódio na sociedade. É muita gente. Muita mesmo. E foi nisso que Eduardo cresceu o olho. A essa altura do campeonato, seria simplesmente infantil achar que o filho 03 foi para os EUA para 'salvar' o pai, até porque suas ações agora deixam claro que ele desde o início quis suplantar o próprio 'fundador' do movimento ideológico, para converter-se em novo líder.

Os perfis mais radicalizados nas principais redes sociais não param de atacar as próprias ordens de Bolsonaro para que um acordo seja selado em torno da chapa Tarcísio/Michelle para disputar a Presidência no ano que vem, e para embarcar numa redução de pena. Os seguidores desses perfis, que são também seguidores de Eduardo Bolsonaro, uma massa significativa, até agem com algum “respeito” por Jair, mas ignoram suas ordens e engrossam o coro dos apoiadores do filho Eduardo, inclusive se classificando como “eduardistas”, os adeptos do “eduardismo”, que não aceitará outra coisa que não seja Eduardo Bolsonaro candidato a presidente em 2026.

Ao fim e ao cabo, o tal "eduardismo" reflete os valores mais absurdos de uma extrema direita que, para alguns adeptos, precisa cada vez mais se radicalizar. O grupo dos "malucos" encontrou nesse segmento a possibilidade de seguir adorando os EUA acima de tudo, inclusive do Brasil (de forma confessa e explícita), de manter o culto às armas e à mentalidade ultramilitarista, de manter acesa a chama das insanidades apresentadas em 2018 por Jair Bolsonaro, assim como de aglutinar novos "ideais" confusos e dignos de nojo por qualquer ser humano normal, como a exaltação à figura de Charlie Kirk, um supremacista branco disseminador de ódio que flertava o tempo todo com o nazismo, e que virou uma coqueluche depois que foi assassinado com um tiro num evento público de Utah, passando a ser retratado como um "pacifista".

A iniciativa de usar o termo “eduardismo” por escrito e como símbolo dessa franja volumoso não foi algo fortuito. Esse terço quer emplacar uma nova vertente extremista, uma espécie do extremismo do extremismo. Se isso de alguma forma, no frigir dos ovos, emplacar, as coisas para a extrema direita ficarão ainda mais complicadas. Num cenário de embolação, eles só tendem a se estrepar. Fragilizados e abertamente desunidos, a tarefa de voltar ao poder se transformaria em algo ainda mais difícil, um sonho que ficaria ainda mais longe.

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