26 de setembro de 2025
Barroso lamenta sanções dos EUA e diz que país adotou narrativa equivocada sobre STF
Autor: Daniel Menezes
R7 - Em entrevista exclusiva à RECORD nesta quinta-feira (25), o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Luís Roberto Barroso, criticou a postura dos Estados Unidos ao impor sanções a membros da Corte e seus familiares, em razão do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado. Para Barroso, houve um entendimento equivocado por parte das autoridades americanas.
Segundo ele, “infelizmente, prevaleceu junto às autoridades dos Estados Unidos a narrativa dos que tentaram golpe e perderam”, o que resultou em punições baseadas em informações incorretas.
“Eu sou convencido de que as punições decorrem de uma narrativa equivocada que prevaleceu junto às autoridades daquele país”, pontuou.
Barroso afirmou que a diplomacia brasileira e os formadores de opinião não conseguiram transmitir aos EUA a “narrativa factualmente correta” dos acontecimentos.
“Houve uma tentativa de golpe, e não prevaleceu o golpe, e as pessoas que tentaram o golpe estão sendo punidas”, disse.
Entre as punições impostas pelos Estados Unidos a integrantes do Supremo, estão a revogação de vistos de ministros e a aplicação da chamada Lei Magnitsky, que prevê sanções contra pessoas acusadas de corrupção ou violações de direitos humanos.
O ministro Alexandre de Moraes foi alvo das duas medidas, e a mulher dele também acabou incluída nas sanções, sofrendo restrições a partir da aplicação da mesma lei.
Interferência externa é “fora do padrão”
O ministro também classificou como “fora do padrão” a atitude de outro país tentar interferir nas decisões judiciais brasileiras. Antes do julgamento que condenou Bolsonaro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chamou o processo contra o ex-presidente brasileiro de “caça às bruxas” e disse que o caso deveria ser interrompido imediatamente.
“É totalmente fora do padrão um país procurar interferir nas decisões judiciais do outro país. O argumento de que haveria decisões do Supremo que pretenderiam produzir efeitos nos Estados Unidos não é correto. Nós estamos cuidando do nosso jardim, ninguém quer produzir efeitos lá fora”, declarou.
Barroso destacou ainda que, apesar das pressões externas, o Supremo resistiu e cumpriu seu papel com independência.
“O tribunal cumpriu o seu papel como tinha de cumprir, com altivez, sem bravatas”, afirmou. “Eu acho que a minha intenção é continuar fazendo força para esclarecer que aqui aconteceu efetivamente uma tentativa de golpe, e não uma perseguição política ou uma caças bruxas.”
Ele lembrou que o julgamento do caso foi público, acompanhado pela imprensa, com ampla defesa e até um voto divergente, reforçando a legitimidade do processo.
“Tudo é comprovado. Havia um plano confessado. Houve uma campanha orquestrada e estruturada para desacreditar o sistema eleitoral. Houve uma intervenção do interferência do presidente da República para as Forças Armadas mudarem o relatório que dizia que não tinha tido fraude”, comentou.
“Houve uma articulação para incentivar e manter as pessoas nas portas dos quartéis, pedindo golpe de Estado para o presidente derrotado permanecer. Houve uma colaboração premiada detalhada do ajudante de ordens do presidente da República. Portanto, não tem nada de perseguição política ali”, concluiu Barroso.
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