25 de julho de 2025
Parlamentares coletam assinaturas para CPMI investigar operações suspeitas na Bolsa de Valores antes do tarifaço
Autor: Daniel Menezes
Por Cleber Lourenço
ICL Notícias
A revelação feita em reportagem do ICL Notícias de que mais de R$ 6,6 bilhões foram movimentados na Bolsa de Valores brasileira em operações consideradas atípicas e suspeitas, poucas horas antes do anúncio oficial do tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos contra o Brasil, desencadeou uma reação imediata no meio político.
Parlamentares governistas anunciaram que, no retorno do recesso legislativo, vão iniciar a coleta de assinaturas para a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI). A proposta tem como objetivo investigar a origem das transações, identificar possíveis crimes financeiros e apurar o envolvimento de agentes políticos e econômicos ligados ao bolsonarismo e ao governo Donald Trump.
De acordo com a nota divulgada pela liderança do PT na Câmara, os indícios apontam para o uso de informação privilegiada em operações conduzidas por corretoras como BGC Liquidez — controlada por Howard Lutnick, atual Secretário de Comércio dos EUA sob a gestão Trump — além de BTG Pactual e Tullett Prebon. Essas instituições teriam operado sabendo previamente das sanções comerciais, beneficiando-se com a queda previsível dos ativos brasileiros, o que levantaria suspeitas de insider trading com impacto direto na economia nacional.
Para os parlamentares envolvidos, o caso não se trata apenas de uma possível violação de regras do mercado financeiro, mas sim de um esquema internacional de ataque à soberania do Brasil. Segundo eles, as movimentações evidenciam a formação de uma rede político-financeira voltada à desestabilização do país, com motivações golpistas, ganhos financeiros escusos e articulação direta com setores da extrema direita internacional.
Nota fala em sabotagem na movimentação da Bolsa
A participação de Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, neto do general João Figueiredo, último ditador militar do regime, é considerada central na denúncia. Ambos atuaram publicamente nos Estados Unidos a favor de sanções ao Brasil, com reuniões e manifestações que, para a bancada do PT, configuram lobby contra o próprio país.
“Em vez de defender os interesses nacionais, Eduardo e Figueiredo agiram como lobistas contra a própria pátria”, afirma o deputado Lindbergh Farias na nota oficial. Para o parlamentar, a atuação dos dois se insere numa estratégia deliberada de desestabilização econômica, que visa enfraquecer o governo brasileiro e gerar ganhos pessoais e políticos para seus aliados.
A futura CPMI deve ter um escopo amplo: investigar as operações financeiras realizadas na véspera do tarifaço, levantar quem foram os compradores e vendedores envolvidos, identificar ligações com figuras políticas do bolsonarismo, além de verificar contatos diretos com o governo Trump e aliados internacionais. A comissão poderá ouvir operadores do mercado, membros do Executivo e representantes de corretoras nacionais e internacionais, com possibilidade de acionar a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Receita Federal para quebra de sigilo e cooperação técnica.
A nota divulgada por Lindbergh Farias é enfática ao afirmar que o Brasil não pode tolerar ações de sabotagem praticadas de dentro e de fora do país: “O Congresso Nacional não pode se omitir diante da possibilidade de que crimes de guerra híbrida, manipulação financeira e conspiração contra a economia brasileira estejam sendo cometidos com envolvimento direto de quem deveria defender os interesses do país”.
A proposta de CPMI já conta com apoio de parlamentares de diversos partidos do campo progressista, como PSOL, PCdoB, PDT, PV e Rede, e deve se tornar uma das pautas centrais do segundo semestre legislativo. O clima é de indignação entre lideranças que veem no episódio uma tentativa coordenada de gerar crise política por meio de ferramentas financeiras e econômicas. Deputados também avaliam acionar instâncias internacionais, como o Parlamento do Mercosul e organismos multilaterais, para denunciar a possível articulação entre agentes estrangeiros e setores internos do país.
Em paralelo, o caso já está sendo analisado pelo Supremo Tribunal Federal, que recebeu da Advocacia-Geral da União (AGU) um pedido de investigação com base no inquérito 4995. O STF apura se houve uso de informações confidenciais, crime previsto na Lei do Mercado de Capitais, além de eventual conexão entre os autores das transações e figuras políticas investigadas por envolvimento em atos antidemocráticos. A expectativa é que o inquérito caminhe em conjunto com os trabalhos da CPMI, caso ela seja instalada oficialmente.
Parlamentares envolvidos no pedido avaliam que a apuração poderá ir além da responsabilização dos operadores financeiros e alcançar interesses políticos transnacionais, com o potencial de expor redes de desinformação e manipulação econômica coordenadas a partir dos Estados Unidos com apoio de brasileiros ligados ao bolsonarismo.
“O Brasil não é colônia de interesses externos. Ninguém vai lucrar impunemente com ataques ao nosso país. Vamos reagir à altura”, conclui a nota da liderança do PT, que promete intensificar as articulações para levar a CPMI adiante.
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