29 de maio de 2025

Discursando sobre "ameaça à liberdade de expressão", Rogério Marinho faz falsas equivalências, silencia sobre perseguições no RN contra jornalistas e usa frase de autocratas

Autor: Daniel Menezes

O senador Rogério Marinho alertou para a ameaça à liberdade de expressão em discurso no congresso no último dia 28. Cabe destrinchar as suas falas.

FALSA EQUIVALÊNCIA

O que seria "liberdade de expressão"? O direito, segundo ele, do deputado federal Eduardo Bolsonaro buscar sanções para o Brasil junto ao governo americano, tentando fazer carga contra o judiciário brasileiro.

De acordo com o senador bolsonarista, há uma injustiça em campo, já que a esquerda também fez o mesmo e era vista como democrata quando da prisão de Lula.

Temos aqui falsa comparação explícita - naquele momento, grupos de esquerda entraram com representações em tribunais internacionais a partir de acordos e convenções aos quais o país é signatário. Não procuraram sanções de governos estrangeiros. E cabe refletir ainda um pouco mais.

E POR QUE NÃO FAZ O MESMO?

Ora, se usou tal exemplo, por por qual razão Eduardo Bolsonaro não faz então o mesmo? Ou ainda o eminente senador? Por que o senhor não vai ao Tribunal Penal Internacional ou a Organização das Nações Unidas com as gravações, áudios, provas, documentos e outros dados materiais achados pela polícia federal e diz que não há nenhuma prova de que Jair Bolsonaro articulou uma tentativa de golpe?

E, além de alegar a inocência dele, o senhor ou Eduardo Bolsonaro pode dizer que ele é vítima do judiciário brasileiro. E aí apresenta as razões devidas numa petição que será avaliada por um órgão internacional. É assim que fazem aqueles que acreditam na força dos seus argumentos, ao invés de procurarem por uma anistia no congresso imposta ao arrepio da separação dos poderes. O senhor, Eduardo Bolsonaro, Jair Bolsonaro ou qualquer outro tem esse direito.

Mas parece que Eduardo ou ainda Rogério, que cita o exemplo, não procura percurso semelhante por medo de perder. Ou então, de repente, além do STF, a ONU e o TPI também são petistas.

Não, Rogério sabe - e apoia - que Eduardo Bolsonaro, o patriota, quer arrancar sanção contra o judiciário brasileiro na base da canetada de governo estrangeiro e não debatendo em corte internacional jurisdicionada, o que é significativamente diferente.

Não a toa, a busca por um governo mais forte com típico alinhamento ideológico, que hoje "exercita" sua liberdade perseguindo, para ficar apenas neste exemplo, estudantes estrangeiros legalizados que estudam nos EUA.

BOLSONARISMO - LIBERDADE IRRESTRITA PRA MIM; CENSURA PARA OS OUTROS

Rogério defende o direito de divergir em seu discurso a partir do release publicado pela Tribuna do Norte.

Ora, cabe indagar o senador, se o sentimento é sincero, por que não conversar com os veículos do RN que hoje são ligados ao senhor e que, na primeira divergência, trataram jornalistas e comentaristas com demissão?

Critique o seu suplente, que é dono de jornal, as rádios que estão com bancadas formadas e elaboradores de pauta que são seus liderados. Eles estão varrendo a divergência do seu estado, senador Rogério Marinho.

Por fim, olhe para o modo como o seu grupo vem tratando jornalistas aqui no estado - além de demissões, com processos, fake news e ataques. 

Se não defende a prática efetiva da liberdade de expressão na sua casa, que é o RN, como quer falar em algo nesta perspectiva para qualquer outro ambiente?

ESTA MADURO ASSINARIA

“Nós somos o Poder que representa o povo brasileiro. Nenhum daqueles ministros foi votado pela população brasileira; por isso mesmo, não podem se insurgir e se imiscuir nas ações do Legislativo”.

Esta frase Nicolas Maduro, Erdogan e o Putin assinariam. Atacar a autonomia do judiciário sob a falsa alegação de não terem sido votados é tática de manual, conforme o livro como as democracias morrem, de quem não é muito chegado em democracia. 

Aliás, se é a favor da separação dos poderes, então abra mão de executar orçamento, que não é de sua incubência, caro senador. Não vai também, não é?

Pois é.

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