30 de abril de 2025
Silvério e Bruno Araújo, os últimos dos moicanos nas rádios de Natal
Autor: Daniel Menezes
No filme estrelado por Daniel Day Lewis, na fórmula típica de embranquecimento do mocinho das obras cinematográficas dos EUA sobre genocídio indígena, o pai adotivo do personagem principal enxerga ao final que sua luta foi em vão. Ele era último remanescente do seu povo, o último dos moicanos.
A metáfora serve para explicar o que ocorre em Natal quando o assunto diz respeito ao pluralismo nas rádios da cidade. Hoje, após toda a disputa, só há Silvério Filho na 97fm e Bruno Araújo na 96fm como aqueles que confrontam o bolsonarismo. Todos os demais foram abatidos ou silenciaram por sobrevivência, o que é nitidamente compreensível. O fato do Brasil ter recentemente passado por uma pandemia aplicando tudo o que não deveria gerando um everest de cadáveres e o líder da extrema direita deixado o poder após derrota eleitoral com direito a todo tipo de subterfúgio golpista são matados no peito. Se tais absurdos são encarados como detalhe - isto quando percebidos como existentes -, toda a desonestidade restante de desrespeitos cotidianos aos acontecimentos viram traço.
O RN é um estado inegavelmente não bolsonarista aonde Lula sempre ganha de lavada. Mesmo em 2018, quando o PT estava em extrema dificuldade e o candidato era Fernando Haddad, Jair Bolsonaro não conseguiu levar. Mas as elites do estado são todas bolsonaristas e controlam os veículos de comunicação, gerando de partida uma certa porosidade ao jeito de jogar da extrema direita. Aquele alinhamento ideológico somado ao fortalecimento dos laços a partir dos contínuos encontros para comes e bebes de fins de semana em que as conversas giram em torno de preconceitos de classe, pabulagem financeira e novinhas.
Mas há também a junção material. Além do PL ter administrado até 2022, o senador Rogério Marinho, líder do extremismo potiguar e em uma cruzada para salvar Jair Bolsonaro da condenação por tentativa de golpe de estado televisionada, representa hoje o PIB do RN. A fórmula é finalizada pela vitória de Paulinho Freire em Natal, que já aplica o receituário Álvaro Dias de relação com a imprensa em que a parceria é condicionada ao controle da pauta e das bancadas dos veículos. Para tais atores, o jogo é preto no branco. Não existe meio termo ou republicanismo. Do outro lado, há um governo estadual de esquerda que não lança mão de tais incursões. Quem acompanha o bastidor sabe muitíssimo bem que os relatos são cotidianos.
Foi esta conjuntura que gerou o endurecimento do mainstream bolsonarista, limando todas as vozes dissonantes da cidade. Os contornos ganham expressão máxima nas rádios, só restando Silvério Filho e Bruno Araújo. E aqui do meu cantinho deixo os parabéns sinceros a rádio 97FM por abrir espaço para Silvério, indivíduo de inegável preparo e dinamismo; e para Bruno Giovanni, o BG, por preservar a presença de Bruno Araújo, outro que também é competente. Aos demais, só resta destinar a devida compreensão por reconhecerem de modo realista pelas suas ações que, pela via do bolsonarismo, são incapazes de vencer qualquer debate a partir da lógica do melhor argumento.
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