15 de abril de 2025
Prisão na Argentina é pior que Papuda, diz fugitivo que zombou de Moraes
Autor: Daniel Menezes
(UOL/FOLHAPRESS) - Condenados no Brasil por tentativa de golpe de Estado nos ataques aos Três Poderes e que hoje estão presos na Argentina relataram à reportagem que são vítimas de violações aos direitos humanos em detenções no país vizinho.
📳Participe do canal do Potiguar no WhatsApp
Eles se queixam de falta de cuidados médicos, comida insuficiente, sujeira, falta de higiene e ameaça de morte de outros detentos.
Procurados, o governo Javier Milei e o Judiciário argentino não se manifestaram.
Atualmente, cinco fugitivos do 8/1 se encontram presos na Argentina -todos com pedido de extradição e todos solicitantes de refúgio no país vizinho. O caso deles deve ser julgado neste mês. Eles chegaram a ser presos no Brasil, mas fugiram do país, como revelou o UOL. Na Argentina, foram presos de novo por ordem da Justiça.
SEM DIREITOS HUMANOS, DIZ MOTOQUEIRO
O motoqueiro Wellington Luiz Firmino, 35, é um deles. Condenado a 17 anos no Brasil, foi preso na Argentina em 18 de novembro, dias após zombar do pedido de extradição feito pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
Detido no Complexo Penitenciário de Ezeiza, na região metropolitana de Buenos Aires, Firmino falou com a reportagem no final de março por meio de telefone fixo da carceragem. Ele disse que passou os primeiros 49 dias numa carceragem da província de Jujuy, no noroeste argentino, perto de onde foi detido tentando fugir para o Chile com um grupo de brasileiros que teve sucesso na empreitada.
"Meus 49 dias preso [na carceragem de Jujuy] foram mil vezes piores do que meus 11 meses na Papuda [penitenciária em Brasília]", afirmou o motoqueiro.
"Um lugar que não tem o mínimo de direitos humanos", reclamou Firmino. "Era uma cela solitária, que não tinha banheiro, tinha apenas um buraco no chão e uma canequinha pra tomar banho, um fiozinho d'água que você não tem noção do que era... Pernilongo para todo lado."
Em 6 de janeiro, Firmino foi transferido da carceragem de Jujuy para o Complexo Penitenciário de Ezeiza. Lá, está preso com os outros brasileiros condenados por tentativa de golpe de Estado em uma espécie de "residência" com dois quartos, sala, cozinha, geladeira e TV aberta. Os outros detentos são Joelton Gusmão, Joel Borges e Rodrigo Ramalho.
Firmino relata ter machucado o braço em um acidente de moto, o que, segundo ele, resultou na colocação de pinos de metal. Ele diz que precisa fazer uma cirurgia, mas que a penitenciária não libera o atendimento. "Estou com o meu braço direito sem força, com dor constante."
SEM BANHO DE SOL
O entregador de aplicativo Rodrigo Ramalho lesionou o menisco do joelho e rompeu os ligamentos na cadeia em Ezeiza ao sofrer um tombo, segundo relatou à reportagem.
Condenado no Brasil, ele fugiu com esposa e filhos para a Argentina. Em carta enviada da prisão à Asfav (associação de famílias de investigados do 8 de Janeiro) em 21 de março, Ramalho narrou que não consegue fazer nem um raio-x.
"Faz um mês [que houve a lesão] e sequer tiraram o raio-x. Estou aguardando ressonância, raio-x, fisioterapia e consulta com ortopedia", escreveu ele. Antes de chegar a Ezeiza, Rodrigo diz ter ficado detido em uma delegacia em La Plata, na região de Buenos Aires, sem acesso a banho de sol e alimentação. Ele estava no mesmo local com Joelton Gusmão.
"Passei 53 dias trancado em uma cela sem sol, sem comida, sem cuidados médicos. Só com a ajuda da família [...] Me sinto abandonado, esquecido em um país estrangeiro", contou o entregador em carta escrita da prisão.
Já o caminhoneiro Joel Borges, 46, contou à reportagem que tomava banho a cada cinco dias em uma carceragem da província de San Luiz, numa "cela de 2 m x 1,40 m, uma casinha de cachorro".
DETENTA DIZ TER SIDO ROUBADA NA CADEIA
Da cadeia, a analista de marketing Ana Paula de Souza, 36, contou à reportagem por telefone que sente dores diárias nas mamas. Segundo relatórios de três médicos, ela retirou nódulos benignos dos seios em 2022 e, desde o ano seguinte, foi diagnosticada com doença autoimune crônica chamada tireoidite de Hashimoto.
Ana Paula precisa tomar medicação constante e necessita de avaliação da dosagem hormonal de tempos em tempos, segundo os profissionais de saúde que cuidaram dela no Brasil.
Ela também contou à reportagem que não consegue atendimento médico para as dores diárias e que a penitenciária não permite que ela faça exames, mesmo que ela pague do seu bolso. A família providencia os hormônios que deve tomar regularmente.
"O diclofenaco [analgésico] ameniza as pontadas, mas não resolve", disse. "E uma pessoa normal não tem que tomar remédio para dor todos os dias da vida, né? Fico preocupada porque eu já tive nódulos [nos seios], já fui operada."
Condenada no Brasil, ela foi presa em 28 de novembro na Argentina. Ana Paula esteve numa primeira ala da Penitenciária Feminina de Ezeiza durante três meses. "Já aconteceu de roubarem coisas minhas: roupas, comida, créditos de telefone."
[0] Comentários | Deixe seu comentário.